15/11/2025
A retirada da tarja preta do estrogênio vaginal pela FDA é, sim, uma boa notícia, baseada em décadas de evidências sólidas sobre segurança local.
Mas quando a decisão se estende para outras formas de estrogênio, usando estudos antigos, observacionais e muitas vezes mal interpretados, e ainda não seguindo o procedimento rigoroso habitual, precisamos fazer uma pausa.
Vocês devem ter visto um entusiasmo generalizado nas redes sociais, principalmente entre médicos da menopausa, mas acredito que não consideraram a complexidade dos dados.
Tenho visto muitos profissionais celebrarem essa decisão como se provasse que “o estrogênio é sempre seguro”.
Mas celebrar sem ler a fundo os estudos usados pela FDA é perigoso.
Usar dados científicos apenas quando eles servem à própria narrativa não é ciência, é um absurdo, distorção e desrespeito contra as mulheres.
Não podemos dizer que “o WHI estava errado” ( WHI foi um dos maiores ensaios clínicos já feitos, que acompanhou mulheres recebendo terapia hormonal e identificou riscos importantes, a ponto de interromper parte do estudo) e, ao mesmo tempo, citar os próprios dados do WHI quando eles parecem convenientes, como: “mulheres que usaram apenas estrogênio tiveram redução de até 24% no risco de câncer de mama.
Isso não é análise crítica é seleção estratégica de evidências com um toque de manipulação. E mulheres não podem ser tratadas como alvo de marketing hormonal, nem como justificativa para discursos enganosos.
Desde que comecei a atuar na área da perimenopausa e menopausa, percebi um padrão: informação repetida vira narrativa viral. A novidade da semana vira certeza absoluta sem que ninguém examine o processo de tomada de decisão: quais estudos foram avaliados, que tipo de evidência serviu de base, que conflitos de interesse existiam, e se houve revisão técnica completa.
Continua nos comentários….