14/07/2022
Hoje quero falar um pouco das minhas duas maiores influências na prática clínica: a ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso) e a FAP (Psicoterapia Analítica Funcional). Elas são modalidades de psicoterapia que têm a sua origem e a sua base na Análise do Comportamento, que é a teoria da psicologia que norteia a minha atuação profissional. A efetividade delas tem sido evidenciada a cada ano e elas têm se provado úteis para vários tipos de problemas psicológicos.
Elas não se apoiam em categorias diagnósticas gerais encontradas em manuais psiquiátricos, como o DSM-5 ou o CID-11, e são apegadas à individualidade de cada caso, sempre adaptadas a cada demanda e a cada pessoa. Isto quer dizer que não são definidos os mesmos objetivos para todos os pacientes e que não os enquadramos dentro de algum “transtorno”.
Por serem terapias comportamentais, elas seguem a lógica de que se uma pessoa fizer o que sempre fez, ela vai continuar tendo o que sempre teve. Se ela não estiver satisfeita com o que está acontecendo e com a vida que está levando, algo precisa ser mudado, algo diferente precisa ser feito.
Elas não têm como objetivo resolver os problemas da vida do paciente, mas ajudá-lo a tal ponto que ele seja capaz de lidar com estes problemas e aprender o melhor jeito possível de viver o desafio de ser humano.
O terapeuta não se mantém “neutro” durante as sessões, ele se entrega, se envolve e está junto, de igual para igual. Só participa quem está no mesmo barco!
Quando integradas, a ACT e a FAP se complementam e, com isso, aumenta a eficácia que elas podem ter por si só. Vou descrever, sucintamente, o enfoque de cada uma neste post.
ACT:
O sofrimento acomete a todos, não é mesmo? Cedo ou tarde, de uma forma ou de outra, todos passaremos por experiências dolorosas, como perdas, adoecimentos, rejeições, decepções, falhas, entre outras. Em vista disso, a ACT não visa livrar o paciente das suas dores, mas sim auxiliá-lo a não ser guiado apenas por elas. Não precisamos deixar de senti-las (até porque não tem como), podemos estar com elas e acomodá-las como nossas companheiras de viagem enquanto aprendemos a caminhar rumo às coisas pelas quais vale a pena viver. É necessário aprender a andar mesmo com o desconforto presente, a se mover apesar dele!
Uma vez que nos tornamos seres verbais, passamos a estar continuamente imersos no universo de palavras, descrevendo, relacionando, avaliando, conversando, escrevendo, lendo e pensando sobre tudo que nos rodeia.
Uma das principais responsáveis por nos fazer sentir mal sobre nós mesmos e o mundo ao nosso redor é a nossa capacidade de usar palavras para comparar, julgar e rotular a nós mesmos e as coisas à nossa volta como boas ou ruins, desejáveis ou indesejáveis, bonitas ou feias, dignas ou indignas, e assim por diante. Também tendemos a utilizá-las para prever e nos preocupar com futuros imaginados, revisitar o passado vivido, refletir sobre a nossa existência e sofrer por determinadas situações que nem sequer estão acontecendo.
A nossa cabeça nos leva para um passeio com mais frequência do que percebemos e, sem nos darmos conta, vamos deixando a vida passar sem ser vivida. Se o conteúdo da nossa cabeça nos cega e nos deixa incapazes de movimentar na direção do que nos conecta ao que nos é importante, temos um problema! A proposta da ACT é modif**ar o jeito que nos relacionamos com esse conteúdo.
FAP:
Por sermos seres sociais, a grande maioria dos problemas psicológicos envolve questões de vínculo e relacionamentos. Nosso bem-estar pode ser tanto nutrido quanto prejudicado pelo que vivemos com outras pessoas. Apesar de todas as modalidades de terapia olharem para as relações interpessoais, o grande foco da FAP é usá-las como campo de trabalho.
A FAP parte da ideia de que qualquer coisa que o paciente diz ou faz em sessão é possivelmente muito semelhante à sua forma de enfrentar o mundo fora das sessões, logo, a própria relação terapêutica se configura como um meio pelo qual as dificuldades para as quais ele busca ajuda se revelarão e as melhoras clínicas se darão. A mudança se constrói a partir de como o terapeuta e o paciente agem em sessão na interação um com o outro, portanto, essas trocas espontâneas que se desenrolam entre os dois são o veículo que a torna possível.
A FAP é um convite para experimentar uma maneira diferente de se relacionar com alguém (no caso, o terapeuta), pois ela abre oportunidades para arriscar-se mais, falando sobre assuntos difíceis ou expondo coisas que, em geral, não se conta para ninguém, e para tentar fazer algo diferente do que costuma fazer em suas outras relações, como, por exemplo, se mostrar sem precisar f**ar se editando, ou seja, ser quem é.