15/11/2025
Eu tenho uma questão (várias, na verdade, mas vamos focar em uma de cada vez, por favor): ré confessa, admito que ainda, vez ou outra, persigo a infundada perfeição. Eu sei, é péssimo — e assumir isso é extremamente constrangedor, muito embora importante.
A versão idealizada de mim mesma é sustentada por um esforço sobre-humano que faço pra sempre atender às expectativas (as dos outros e as minhas). E o sofrimento não é só fim nesse processo sem pé nem cabeça, como é principalmente companhia intragável: enquanto me desdobro em mil pra desempenhar regularidade, vou me descosturando aos pouquinhos.
Sejamos sinceras: a que ponto sobrevive tamanha distensão? Estira um tantinho hoje, amanhã um pouco mais... até que chega um momento em que o fio cede. E o pior é que eu sei disso. Saber como tal padrão se moldou e como se sustenta — ou seja, ter consciência sobre ele — não me impede de cair na armadilha utópica que é o agradar desmedido. Mas me abre um leque de alternativas, com certeza.
Tenho tentado, com a disciplina que me é familiar, não deixar o ponto estourar. Já que sou treinada em perseverar, por que não usar isso a meu favor e tentar, todo dia um tiquinho, me aproximar de mim mesma enquanto busco deixar pra trás essa necessidade de desempenhar excelência?
Pensando bem, quem luta demais pra caber, no fim, se desconfigura tanto que acaba sem lugar. Não adianta: vários retalhos soltos não fazem as vezes de colcha. E eu, definitivamente, quero ser colcha inteira — colorida, confortável (principalmente pra mim), cheia de histórias e retalhos costurados e firmes, dos quais me orgulho.
É um caminho difícil, porém possível. Eu sei que preciso estar aberta a um montão de sentimentos e situações desconfortáveis. E eu estou.