19/08/2020
CONSTRUINDO UMA BOA FLORA INTESTINAL NA INFÂNCIA
Muitos fatores auxiliam na formação de uma boa microbiota.
* TIPO DE PARTO: há estudos que sugerem que o parto vaginal auxilia na colonização intestinal do recém-nascido. A colonização de bebês que nasceram por parto cesárea ocorre, porém é mais lenta. Pode haver diferença na diversidade da microbiota intestinal.
* AMAMENTAÇÃO: o leite materno contém muitas substâncias que estimulam o crescimento e a nutrição de bons microrganismos, como os oligossacarídeos e as fibras pré-bióticas. Além disso, ele contém os próprios microorganismos que irão formar a microbiota intestinal, originários do contato do bebê com a pele da mãe. Algumas fórmulas lácteas, utilizadas quando a mãe não pode amamentar, são suplementadas com essas mesmas substâncias e lactobacillus, o que é muito benéfico para o bebê. Entretanto, ainda não sabemos qual é a estabilidade da colonização da microbiota induzida pelas fórmulas.
* ALIMENTAÇÃO TIPO FAST FOOD: com a introdução dos alimentos sólidos (após os 6 meses), a alimentação das crianças tem um papel fundamental na microbiota intestinal. Essa modulação, mediada pela alimentação, se estende até os 3 anos de idade. Sabe-se que, dietas ricas em gordura e açúcares, podem causar mudanças no perfil de microrganismos do intestino, aumentando a produção de substâncias pró-inflamatórias.
* VEGETAIS E FRUTAS: algumas fibras, presentes nos vegetais e nas frutas, são fermentadas pelas bactérias e produzem substâncias que nutrem as células intestinais (ácidos graxos de cadeia curta). Com as células intestinais bem nutridas, a passagem de bactérias causadoras de doenças, do intestino para a corrente sanguínea, é reduzida, fortalecendo o sistema imunológico e reduzindo a inflamação.
* ALIMENTOS FERMENTADOS: muitas culturas têm o hábito de comer vegetais fermentados (pickles, choucroute ou kimchi), bebidas fermentadas (kombucha), leites fermentados, iogurtes e queijos. E o consumo desses alimentos têm efeitos muito benéficos na formação da microbiota intestinal. No Brasil, não temos o hábito de comer alguns desses alimentos, porém o leite fermentado, os iogurtes e alguns tipos de queijo, fazem parte da nossa alimentação. Temos apenas que tomar cuidado com a quantidade de açúcar contida em muitos leites fermentados e iogurtes, especialmente para crianças menores de 2 anos. O mais recomendado seria o consumo de coalhada ou iogurte natural batido com frutas bem docinhas! F**a uma delícia!
* ANTIBIÓTICOS: o uso muito frequente de antibióticos por crianças atrapalha na formação de uma boa microbiota intestinal. Não podemos esquecer a importância do uso desses medicamentos - quando necessário é importante que a criança faça bom uso. Entretanto, temos que tomar cuidado com a utilização desnecessária desse tipo de droga.
* ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO E IRMÃOS: uma curiosidade muito legal é que, crianças que têm irmãos e/ ou animais de estimação, tem uma maior diversidade de microrganismos no intestino, o que é muito positivo!
Como alguns fatores não podemos mudar, como a forma que o bebê nasceu, a possibilidade de amamentar, a presença ou não de irmãos, entre tantas outros, temos que focar nos fatores que podemos modificar: a alimentação.
Controlar o consumo de açúcar e gordura, e estimular as frutas, vegetais e iogurtes, são boas maneiras de promover a formação de uma microbiota saudável nos nossos filhos. Essa microbiota, sem dúvida alguma, irá ajudar na prevenção de muitas doenças, a curto e longo prazo.
Não me entendam mal...não estou dizendo que crianças não podem comer porcarias eventualmente. Só não podemos deixar que a base da alimentação diária seja composta por esses alimentos. Eles devem ser encarados como alimentos do final de semana e de ocasiões especiais. Só lembrando que açúcares e alimentos adoçados não são recomendados para crianças menores de 2 anos.
Mas meu filho(a) tem mais de 3 anos. Isso significa que não consigo mais, pela alimentação, colher os efeitos benéficos de uma boa microbiota?
Após os 3 anos o perfil da microbiota intestinal já está praticamente formado, e mudanças mais duradouras são mais difíceis de acontecer. Entretanto, sabemos que a boa alimentação traz melhora na variedade e na qualidade das bactérias do intestino, mesmo que a curto prazo. Isso significa que, desde que a criança mantenha bons hábitos de vida, ela estará sempre sendo estimulada a ter um bom perfil de microrganismos no intestino. Em resumo: não fique desanimada! Os benefícios de uma boa alimentação na infância independem da idade dos pequenos!
Amanda Canale
CRN 26096