28/11/2025
No contexto clínico, o uso de bonecos, menino e menina, funciona como um dispositivo simbólico que permite à criança projetar conteúdos psíquicos que ainda não podem ser elaborados pela via verbal. As cenas de amizade, colaboração e ajuda mútua que emergem no brincar representam não apenas interações sociais, mas também a expressão de organizações internas do eu e de suas relações objetais.
Quando os bonecos se envolvem em situações de apoio, cuidado ou resolução conjunta de dificuldades, a criança mobiliza elementos de sua vivência afetiva e relacional. Tais movimentos revelam aspectos do inconsciente infantil, especialmente no que diz respeito:
À forma como ela compreende o vínculo com o outro;
Às dinâmicas entre dependência, autonomia e confiança;
As identificações e contraidentificações que estruturam suas narrativas internas;
Aos modos de lidar com conflitos, medos, rivalidades ou experiências de desamparo.
O brincar compartilhado entre boneco-menino e boneco-menina também possibilita a externalização de representações sobre amizade, cooperação e pertencimento. Esses elementos funcionam como indicadores do desenvolvimento emocional e da capacidade de estabelecer relações simbólicas estáveis.
Assim, ao observar e analisar essas cenas, o profissional pode acessar conteúdos que não emergiriam espontaneamente no discurso da criança. O brincar, portanto, opera como via de expressão do inconsciente, permitindo que conflitos, desejos e fantasias sejam narrados em forma de gesto, movimento e enredo, sempre sustentados pelo eixo da relação com o outro.