09/09/2021
No dia primeiro de agosto tive um dia profundamente cansativo. Estava na cozinha, lavando louças e tive muita vontade de gritar “agosto, mês do desgosto”. Segurei-me em consideração ao meu marido, que faz aniversário em agosto, achei de mau tom. Mas fiquei com a sensação de que esse dia seria prenúncio de um mês difícil...
Minha intuição estava certa, foi o mês mais difícil da minha vida. Precisamos ir ao pronto-socorro por várias vezes. Na última, dia 12 de agosto, ele precisou ser internado.
Sei que tínhamos ainda mais algo a ser cumprido. Algo além do nosso entendimento. Desde então nos víamos todos os dias. Como era bom receber boas notícias e como era triste quando não aconteciam.
O sofrimento só era aliviado com as mensagens de carinho que eu recebia a todo momento, muitas e muitas orações para que meu pai ficasse bem e para que minha família passasse com sabedoria por mais essa provação. Em dias difíceis eu torcia para ele dormir para que eu pudesse chorar. Segurava a mão dele, colocava uma música que ele gostava e lembrava dos nossos bons momentos. E chorava...
Nos dias em que ele estava consciente...ah como era bom! Como foi bom! Conversamos o que nunca tivemos a oportunidade de conversar. Ele me contou sobre a minha avó materna falecida antes de eu nascer. Soube que ela sofreu tanto pela maldade das pessoas que desabei em choro. Chorei de soluçar nesse dia. Eu, na poltrona de acompanhante e meu pai, deitado no leito 208. Pedi desculpas a ele pela minha tristeza.
Mas Anjos estavam por perto a todo momento. Padre Rinaldo foi visitá-lo. Sei que foi um presente para meu pai. Meu pai era amigo do pai dele e éramos vizinhos. Naquele dia tudo fluiu. Uma enfermeira conterrânea de Brazópolis e acertou a veia dele na primeira tentativa. Um médico da UTI foi avalia-lo e para nossa surpresa, era um antigo cliente do Depósito. Meu pai ficou muito feliz nesse dia.
Dia 19 chegou. Tentei dar um dia de descanso para meu marido, afinal de contas foi por esse dia que não proferi a minha insatisfação com o mês de agosto. Pois ele, talvez por teimosia, talvez por preocupação, talvez por amor, não abriu mão de acompanhar meu pai pela manhã como estava fazendo desde a internação.
Muitas vezes eu chegava no hospital chorando, mas ao entrar no quarto enxugava as lágrimas e entrava sorrindo, (nem eu sei como) para que meu pai não percebesse a gravidade do caso e o meu desespero. Saía do hospital e chorava novamente.
No dia 24 meu pai passou muito mal. Avisei a médica/Anjo dele e ela me disse: “querida, você precisa ser forte, fique ao lado dele como filha apenas”. Olhei para meu pai no leito. Saí de perto, precisava respirar e tentar absorver o que ela havia dito. E tentar aceitar. Precisei sair, tive uma crise de choro, desesperada...
Dois dias depois ele teve uma piora e me disse: “filha, acho que estou morrendo”. Eu passava a mão na mão dele, pedia para ele ficar calmo e reforçava que aquele mal estar ía passar.
No dia seguinte ele estava ótimo. Sentou comigo e pediu para eu separar 3 mil reais para seu enterro. Eu estava mais calma, talvez por vê-lo melhor. Disse a ele que nossas vidas estavam nas mãos de Deus e só Ele saberia a nossa hora de chegada e de partida. Que o importante era fazermos o bem durante o caminho. Que nosso corpo físico fazia parte apenas da nossa vida breve por aqui. Mas que tínhamos que pensar na Vida Eterna. Nossa alma é eterna. Ele concordou e sorriu.
No sábado meu pai conseguiu dar pela primeira vez uma pequena volta no corredor do hospital. Porém, a melhora foi breve e no dia seguinte ele estava mal novamente. Eu já me sentia sem forças. Foi muito, muito doloroso. Não conseguia mais vê-lo passando por tanto sofrimento. Ao seu lado, segurando sua mão eu olhava para o céu e conversava muito com Deus. Sei que havia um propósito para continuarmos passando por tudo aquilo, mas eu precisava de forças para conseguir ficar ao seu lado. Pedia misericórdia para o sofrimento do meu pai.
Na noite do último dia de agosto chegou o momento de meu pai fazer sua passagem. Ele pode estar todo o tempo ao lado de quem o amava.
Alguém me disse que eu não deveria esquecer que Deus está conosco inclusive nos momentos de sofrimento. Gratidão por ter tido forças, por estar cercada de anjos, por poder retribuir o cuidado que meu pai sempre teve comigo, por poder eternizar e compartilhar esse momento que era só nosso ❤