06/10/2025
O exame mostrou uma lesão suspeita de tumor no pulmão esquerdo, com líquido na pleura, pequenos nódulos que poderiam ser metástases e um linfonodo aumentado. A inteligência artificial nos explicou isso quando perguntamos sobre o laudo feito no domingo, 08/09/2025. Ainda assim, nossos corações tinham esperança. Meu pai tinha esperança.
As coisas foram piorando dia após dia, mas a esperança permaneceu conosco até o último instante. Fizemos o possível para garantir conforto, mesmo sem saber se você compreendia o que estava acontecendo.
Nunca desejei mal a ninguém, e sei que você também não. Sempre com aquele ar de deboche que nos fazia rir — e às vezes até irritava —, você deixava no ar uma gracinha, uma ironia, uma piada. Mas, nesses últimos dias, o silêncio começou a quebrar meu coração.
Sua lucidez e determinação não nos deixavam acreditar que te perderíamos tão rápido. Tudo aconteceu depressa demais. Ter que te perguntar se gostaria de ser entubado e reanimado, caso fosse necessário, me corroeu por dentro — como essa doença cruel te corroeu silenciosamente.
O que fazer? Agradecer o tempo que passamos juntos. Dizer que te amo. Que sou grata por tudo que fez por nós. Ninguém deveria sentir desconforto ao partir. Ninguém deveria ver um ser amado definhar em tão poucos dias. Ninguém deveria precisar dizer à própria mãe que o companheiro de uma vida estava prestes a partir.
Estive ao lado da minha irmã e da minha mãe, tentando entender como alguém tão cheio de vida — 68 anos, saúde, gingado, lábia — não conseguiu driblar a morte. Como compreender? Como explicar?
Nós três ficamos. Ficaram também os amigos, os parentes, todos sem entender o que aconteceu. Por quê? O que isso nos ensina? Que devemos viver bem cada dia, cada momento. Dizer que ama é pouco — é preciso demonstrar, à nossa maneira, na nossa melhor forma.
Como disse sua neta mais velha, que não pôde se despedir por morar longe:
“Pelo visto, precisavam de alguém urgente pra fazer um churrasco de carne de jacaré no outro plano.”