20/11/2025
Hoje, 20 de novembro,
a pele do tempo se abre
como um livro escrito em cicatrizes.
E dentro dele,
ouvimos o sopro dos que vieram antes —
Zumbi, Dandara, Aqualtune —
sussurrando que nossa existência
sempre foi revolução.
A Consciência Negra não é uma data,
é um oríkì,
um canto de guerra e cura
que ecoa na encruzilhada do Brasil.
É o tambor que não se calou,
mesmo quando tentaram transformá-lo em silêncio.
É a dança que insistiu em nascer,
mesmo quando acorrentaram nossos pés.
É o pensamento que floresceu,
mesmo quando nos negaram o direito de aprender.
Nós somos os herdeiros do impossível,
filhos e filhas de um povo
que transformou dor em ciência,
opressão em estratégia,
ausência em presença,
e apagamento em luz.
O Dia da Consciência Negra
é o instante em que o país precisa parar
e olhar para si mesmo
com a honestidade que sempre recusou:
somos feitos de negritude,
de sua força,
de sua história,
de sua beleza que desafia séculos.
É um convite —
ou melhor, uma convocação —
para que cada pessoa preta
se reconheça como continuidade da luta,
como corpo-sagrado,
como poema vivo,
como futuro que ninguém pode interromper.
Que hoje possamos lembrar
que não caminhamos sozinhos.
Caminhamos com o vento que levou nomes,
com o mar que trouxe memórias,
com os ancestrais que abriram trilhas
para que pudéssemos respirar.
E que amanhã,
e depois,
e sempre,
sigamos dizendo ao mundo, com firmeza e doçura:
Nós somos a semente e o fruto.
Somos a cicatriz e a cura.
Somos resistência, memória e aurora.
Somos o que este país tem de mais bonito.
Por Rafael Marinho
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