“Minha vida é pautada em Deus, Família, Trabalho e Sonhos, nada, além disso, desvia o meu foco.”
Em 1989, meu pai Valmir e minha mãe Fátima chegam a São Mateus. Malas nas mãos, esperança nos corações e dois filhos pequenos. Iriam começar uma nova vida. Em Nova Viçosa, extremo sul da Bahia onde nasci, as coisas não estavam tão fáceis. Faltava emprego, não tinham casa para morar, a única alternativa seria o "êxodo" para terra fértil. No começo por aqui, também foi difícil, mas não há mal que perdure e resista a vontade de vencer. Logo veio a música secular, adentrou nossa casa permitindo o sustento de minha família, dinheiro pouco, comida pouca, mas muita dignidade. O tempo passou, cresci. Depois da creche até a escola, vida melhor, meu pai já trabalhando na prefeitura municipal de São Mateus. Passei a conviver com a experiência de uma liderança comunitária exercida por meu pai. No bairro Vila Verde onde fomos morar, na beira do "Valão”; Córrego Absinia, já poluído, nossa casa era no alto, mas quando chovia era um sofrimento só. Lembro um dia em que com chuva fina descendo meu pai me carregava nos braços, para atravessar o beco em que morávamos, agarrou-se ele também a um mamoeiro, quem sem resistência logo veio ao chão; nós que tanto não queríamos ser atingidos pela chuva nos vimos em plena lama, sem cerimônias...
Um dia sentado a beira do "Valão", ouvia rádio todos os dias na parte da tarde com minha mãe. Logo no inicio deste milênio, era o ano de 2001, já tendo quase 12 anos. Ao som do programa "A Voz da Libertação”... Fiz um desafio a mim mesmo, admiração era tanta que até arrisquei... Nas primeiras palavras do locutor, fui logo soltando palavras ao vento: "-Um dia ainda vou falar nesta rádio”. Minha mãe inconformada com o desejo do vil sonhador logo esbravejou: ''-E tu não sabe que pra falar em rádio tem que ter estudo?.”Logo me entristeci”. Não teria condições de estudar em faculdade. Mas fui teimoso. Não desisti.
...
Passados alguns anos, finalmente arranjei meu primeiro emprego. Tinha 16 anos, ainda sem título de eleitor. Era uma tinturaria: "Oh lugarzinho que trabalhei hein! '. Tingia as roupas que eram levadas, entre elas, volta e meia chegavam toalhas, lençóis e outras peças. Parece fácil mais não era. O processo se dava com a utilização da tinta, diluída em água fervente e soda cáustica. Os dedos chegam "despelavam”. Recebia na maioria das vezes de dez a doze reais por semana, se fizer as contas ai, ficarei "envergonhado" com meu então "salário" mensal. Mesmo assim estava feliz, agora tinha moral, eu trabalhava! Um dia pensando em sabe lá Deus o que, enquanto passava horas mexendo as roupas em água fervente, ouvi um anúncio que muito me atraira. Era um curso de locução e redação em Rádio, a ser ministrado pelo mestre André Oliveira. Fiquei tão feliz e motivado que até me esqueci do serviço. Já estava no ensino médio, 17 anos, aquela talvez fosse minha única chance, logo me decidi: '' Vou fazê-lo!". Na época custando 200 reais, juntei todo dinheiro recebido durante meses de trabalho para pagar o bendito curso. Deus me ajudou. Fiz o curso. Terminei com êxito. O Diploma está lá em casa. Era o retorno de uma grande esperança, era o alimento de um grande sonho. Depois disso, funcionava a tinturaria num mesmo prédio em que havia uma loja de confecções. Pelo trabalho demonstrado e todo esforço empreendido, o proprietário da loja me convidou para trabalhar com ele. Lá eu também trabalhei muito, mas fui feliz em meu aprendizado. A estamparia era o oficio, aguçava minha criatividade ver aquelas diversas máquinas de costura sendo utilizadas com maestria por minhas companheiras de trabalho. Logo deixei a timidez de lado e me aventurei em confeccionar algumas peças, não obtive sucesso em vendas, mas tive diversos uniformes de trabalho feitos por mim mesmo.
...
Passados alguns meses, meu pai candidatou-se a vereador, era o ano de 2008. Empolgado com a chance da conquista pedi umas férias da loja. Infelizmente meu patrão não tinha condições de me permitir. Não era carteira assinada. Nem salário mínimo recebia. Eram 300 reais, meu salário. Assim não tive outra escolha, a esperança era grande e confiança também. Pedi demissão e embarquei em uma das campanhas eleitorais mais difíceis que já participei. Lutamos muito não há como negar. Fomos traídos pelo medo. Envergonhados pela falta de estruturas. Mas crescemos em aprendizado. Depois da frustração de mais uma eleição perdida. Nosso candidato a prefeito ganhou. Então me encontrei desempregado. Ali foram dias de sofrimento, tristeza e desespero. Quando namorando, com Paloma, passamos pela eleição e logo em seguida nossa primeira prova juntos. Não tinha dinheiro nem para um picolé. Mas o pior de tudo era a falta de dignidade e desonra dois sentimentos que quando combinados provocam um verdadeiro abalo na estrutura psicológica de qualquer pessoa. Já a muito tempo evangélico, encontrei na casa de Deus um refúgio para minhas lágrimas, um refrigério para meu desespero.Assim busquei forças em quem me criou.Esperança, em quem me gerou, não para ser cauda nesta terra, mas para ser cabeça. Algum tempo depois, comecei um estágio na Rádio. O estágio foi ótimo, neste período conheci pessoas incríveis, lideres, mestres, doutores, chefes entre outros. Cheguei a apresentar um programa com boa audiência, ao lado do meu amigo Ricardo Oliveira. O programa "Alô Bom Dia" já era um sucesso! Logo que entrei meu amigo me ajudou, ensinou tudo sobre o rádio, e permitiu minha participação integral no programa. Eram bons tempos de "Abraços" enviados aos amigos. Da Rádio, fui para trabalhar na TV SIM, onde estou até hoje. Trabalho como editor. Grandes amigos cultivo na empresa. Uma grande família que trabalha para servir ao povo mateense e região com informação de qualidade. Em 2010 nasceu Pablo, meu primeiro filho. Era bonito demais, mas já nasceu me dando um trabalhinho. Com pneumonia, tiveram que ser levado as pressas para a Capital para ser internado. Passei 10 dias indo e voltando de Vitória, levava fraldas, material higiênico e a esperança de trazê-lo de volta são e salvo. Em casa, a mãe operada orava junto com a família. Obrigado ao Deputado Freitas. Uma ajuda inesquecível na luta pela sobrevivência de meu filho. Dez dias depois, cantei para meu filho um louvor, e qual foi minha surpresa ao ver o agir de Deus em sua súbita recuperação. Um verdadeiro milagre presenciado por todos os presentes. Médicos, enfermeiros e colaboradores, do hospital Santo Úrsula, sintam-se todos abraçados. Cumpriram o seu papel, e mais que isso, se doou para ajudar o filho de quem vocês nem conhecia. Hoje estou bem. Posso cantar. E é isso que faço quando sou convidado. Líder da Banda G5 desde 2008 cantamos música gospel, com letras que falam de Deus, amor, esperança, sonhos, enfim, tudo aquilo que já vivi. Tenho convicção do que eu canto e talvez por isso seja uma das coisas que faço tão bem. Hoje estou cursando minha segunda faculdade: Direito, antes iniciei Comunicação Social pela FVC. Sou Secretário de Juventude do PSB - Partido Socialista Brasileiro. Diretor do Movimento Luta Jovem. Que luta pela implantação de políticas públicas para a juventude capixaba. Trabalhei como Assessor de Comunicação na Prefeitura de São Mateus. Onde fui um dos articuladores pela implantação do Conselho Municipal de Juventude. Sou membro da igreja Batista do Caminho. Hoje me sinto realizado. Mas não por um todo, tenho um grande desejo de poder voltar e transformar a realidade de muitos que como outrora aconteceu comigo, só estão começando sua trajetória, às vezes sem incentivo, ou sem esperanças e na maioria das vezes sem conhecimento. Por isso luto também pela democratização do conhecimento. Que só poderá acontecer de verdade com a valorização da educação. A geração de emprego e renda também é importante, isso trás de volta a esperança da gente. Mas eu tenho ainda mais esperança no futuro da gente, minha vida agora é pautada em Deus, Família, Trabalho e Sonhos, nada, além disso, desvia o meu foco. Tenho mais outro grande sonho.Você pode imaginar qual seria? E você, qual é o seu sonho? Posso te ajudar a realizar?