06/10/2025
Muitas vezes chegamos à terapia acreditando que vamos nos livrar de todos os sintomas, de todas as dores e de tudo aquilo que nos atravessa. Como se cura fosse sempre sinônimo de apagar completamente algo da nossa história.
Mas na psicanálise, a ideia de cura se amplia: não se trata de eliminar tudo, mas de transformar. Há sofrimentos que não desaparecem, mas que podem ganhar outros lugares dentro de nós. Eles mudam de intensidade, de potência, deixam de nos paralisar e de influenciar todas as áreas da vida.
Há ainda outra dimensão importante: na psicanálise, entendemos que alguns sintomas cumprem uma função na vida do sujeito. Eles não são apenas sinais de algo a ser eliminado, mas estruturas que, de certo modo, o mantêm de pé. É como naquela frase que diz: “não dá pra eliminar todos os defeitos, porque não se sabe qual deles te sustenta.” Em alguns casos, retirar completamente um sintoma poderia até desorganizar a vida da pessoa. Certos modos de sofrer também são modos de existir — e é por isso que a psicanálise não busca arrancar tudo, mas criar espaço para que se possa viver com isso de outra maneira, menos paralisante e mais possível.
A terapia, então, não promete apagar cada dor, mas criar caminhos para que possamos continuar vivendo apesar delas. É nesse processo que se encontra uma forma de "cura": não no desaparecimento completo, mas na possibilidade de seguir, transformados, em meio ao que permanece.
Psi. Naomy Almeida