04/10/2021
Um famoso músico americano ficou muito impressionado com a complexidade do ritmo que um menino do morro batucava em seu pandeiro. Ele disse que se a batida fosse transcrita para uma partitura, provavelmente, nem mesmo o próprio garoto seria capaz de reproduzi-la.
Alguns fenômenos são assim, instintivos por natureza. E se tentamos racionalizá-los, acabamos nos confundindo e perdendo parte de sua beleza e essência.
Algo semelhante aconteceu com a nossa alimentação, nas últimas décadas. Por milhões de anos, nos alimentamos de forma natural e instintiva. Não sabíamos o que era carboidrato, gordura saturada ou quantas calorias havia num pedaço de pão, mas dava certo - comíamos bem e nos sentíamos nutridos e satisfeitos. Nossa fome e nosso paladar eram suficientes para nos dizer o que, quanto e como comer.
Então, começamos a ser bombardeados por informações nutricionais: coma isso, não aquilo, faça uma refeição a cada três horas, não, pera, fique em jejum, conte calorias, pese sua comida.
Quanto mais racionalizamos, mais difícil ficou fazer escolhas. Nosso arroz com feijão, prato tradicional de gerações de brasileiros, já não é bom o bastante. Precisamos comer como os homens das cavernas, comprar a barrinha proteica mais cara e o suplemento do momento. Deixamos de confiar no nosso corpo, ignorando sua sabedoria interna e a complexidade do nosso metabolismo, para nos tornamos dependentes de regras externas.
Hoje, vivemos um paradoxo: nunca houve tanta informação disponível e nunca as pessoas estiveram tão confusas e angustiadas sobre o que comer.
Precisamos rasgar a partitura e nos deixar guiar pelo maravilhoso ritmo que toca dentro de nós para voltarmos a nos nutrir com prazer e tranquilidade.