27/10/2025
Em Paris, Texas (1984), o diretor Wim Wenders constrói uma narrativa onde as palavras do personagem principal, Travis, desaparecem, e percorremos com ele uma caminhada pelo deserto real e emocional em que se encontra. Que palavras e ações estão sendo gestadas em seu silêncio? Que formas o amor pode assumir quando não podemos habitá-lo da maneira que gostaríamos? O filme gira bastante em torno dessas perguntas.
Aos poucos Travis, antes errante, começa a se reconectar com seu passado e suas lembranças, se perguntando como pode, na medida do possível, se reconciliar com este?
Ele não é mais o mesmo, mas ainda assim, sabe que o que está ao seu alcance é limitado por suas perturbações que ainda o perseguem. No entanto, não há tempo ou espaço para sentir culpa ou arrependimento. Sua presença no presente comparece com atos que fazem diferença e transformam vidas e histórias antes maltratadas.
A travessia do personagem é acompanhada por uma narrativa fácil e cada plano facilita nossa imersão ao inconsciente dos personagens através das imagens que nos aproximam de suas emoções e sensações.
O amor e o desencontro são a fonte da dor e também da ponte que ainda conecta os personagens principais . A ternura convive com a impossibilidade, e a tentativa de reconexão não é plena, mas é amorosa a sua maneira.
Paris, Texas nos faz testemunhar uma travessia difícil de um personagem que fez uma escolha (dentre muitas outras possibilidades, aquela foi a sua escolha) em busca de um sentido possível para sua existência, até lá, marcada por uma impossibilidade de habitar um amor saudável. Seu gesto final (sem spoiler) pode parecer duro, árido, mas também é extremamente cuidadoso e legítimo. O que vemos é um sujeito tentando, a seu modo, simbolizar o que antes só existia como ferida e desorientação.
E você, o que achou do final?