07/12/2025
Lá me vinha ela com a lamparina por entre as mãos, feita de um pavio de lã ao meio e com querosene até as tampas: “Coloca um cadim de luz. Enxerga! Vendo, espia. Se espiado, apure. Já, apurado, se aprume, resolva, avia logo com isso. ‘Alumia!’ Ilumina, criatura.” Antigamente, quando não havia luz na roça, era a candeia que nos servia, cheinha de azeite de mamona. Em seguida, veio a lamparina e, adiante, o lampião a gás. Até na cidade cada um tinha que levar a própria luz pra sair de casa. Torno a repetir: ‘levar a própria luz’! Lâmpada de LED é algo muito dos modernosos. Feituras à parte: é somente a luz quem faz enxergar aquilo que teimamos apagar.
Não é lampejo. É o clarão que tudo vê. Mas, de sofrer tantas invisibilidades do lado de fora, aprendemos a triste sina de nos invisibilizar do lado de dentro. “Tem base um trem desse?”; “Até parece que vou ser doido de abandonar tudo”; “Depois de velha me aparece uma ideias malucas dessas…” E, assim, seguimos, tratando como ‘loucura’ os apelos que nos vêm lá da fundura d’alma. É doidice querer recomeçar? É muita sandice tentar a felicidade nessa altura do campeonato? Que desatino desacelerar numa sociedade doente de pressa. Normal mesmo são os infelizes em vínculos onde até o amor já foi sepultado? Sãos, então, são aqueles que, no caixão onde jaz o afeto, não arredam o pé por medo do futuro? Que vida bem vivida é essa onde se conta mentiras pra si, como se fosse possível reviver o que foi morto por feridas violentamente reabertas? O que as fotos filtradas e as bodas pomposas esqueceram de contar aos amados?
Quantas vezes chegamos a ouvir os nossos anseios mais legítimos. Eles vêm com o tutano movedor da mudança, diante de uma vida que só soube viver de acordo com a vontade dos outros. Mas, apavorados com o desconhecido, tratamos de descambar em descaminhos, fazendo uma montoeira de coisas errantes: na contramão de quem fomos e no avesso de quem poderíamos ser. De repente se perdeu para não ter que mudar? Pode ser autêntico quem rejeita ao chamamento de si, que clama por mudança, ruptura e coragem?“Alumia” isso!
PAULO CRESPOLINI
▪️Psicólogo - CRP 06/132391
☎️WhatsApp: (11) 97752-7000