19/11/2025
Na neurose histérica, o amor é intenso, cheio de desejo, mas quase sempre difícil de acontecer de verdade.
Freud mostra que, na histeria, o amor costuma se dirigir não exatamente à pessoa real, mas ao que essa pessoa representa: alguém desejável, inacessível, admirável, cheio de algo que o sujeito sente faltar em si.
Por isso, na histeria, muitas vezes se apaixona por quem não está totalmente disponível, alguém comprometido, distante, idealizado. É como se o amor precisasse dessa distância para continuar existindo. Se o outro se aproxima demais ou f**a fácil, o desejo perde força.
Não é falta de amor.
É que o desejo, na histeria, vive da falta. Da busca.
Da pergunta: “O que eu sou para o outro?”
Por isso o amor histérico costuma oscilar entre querer muito e recuar; chamar e depois afastar; desejar e, quando o outro corresponde, se desinteressar. Não por maldade, mas porque o encontro direto ameaça revelar algo que o sujeito não sabe muito bem nomear: a própria falta, a dúvida sobre si, o medo de ser totalmente visto.
Na histeria, o amor é também uma forma de testar o valor próprio.
A pergunta nunca é só “eu amo?”.
É também: “sou desejado?” “sou importante para alguém?”
É assim que Freud descreve: o amor vira uma cena onde o sujeito tenta encontrar respostas sobre si mesmo, e não apenas sobre o outro. Por isso, quando a relação vira “garantida”, o desejo pode esfriar, porque deixa de haver enigma.
E quando algo do amor não pode ser dito, muitas vezes aparece no corpo. Sintomas, angústias, conversões: são maneiras de expressar o que o sujeito não sabe colocar em palavras.
No fundo, o amor histérico é um amor movido pelo que falta.
É vivo, intenso, vibrante, mas sempre atravessado por essa pergunta que nunca se fecha completamente.
Um amor que deseja o desejo.
Que deseja ser desejado.
E que, justamente por isso, nunca se entrega por inteiro.
Raphael Mello | Psicólogo
CRP 06/122146