14/11/2015
PARABÉNS Caro colega Dr. Nilton
Esclarecimentos: na realidade, a cirurgia bariátrica mais freqüentemente realizada, no mundo, diferente do que é anunciado em artigos de jornais no Brasil e sites sobre cirurgia de obesidade, é a Cirurgia de Bypass em Y de Roux e não a cirurgia de Fobi-Capella. A diferença entre as duas é que o Fobi-Capella também é um Bypass em Y de Roux, mas tem a presença de um anel (corpo estranho) que é introduzido no pequeno estômago que sobrou após a cirurgia para fazer uma restrição alimentar e agir como uma passagem com controle para os alimentos que passam. O Bypass em Y de Roux foi cirurgia realizada por Mason & Ito em 1967.
Nos EUA, quase ninguém faz essa cirurgia do anel que é chamada de Gastroplastia Vertical com banda de anel de Silicone ("Silastic ring banded Vertical Gastroplasty") que foi descrita e popularizada nos EUA por Law em 1981.
Fobi (1986) e Capella(1999) fizeram essa cirurgia mais tarde quase 6-8 anos depois. A colocação do anel de silicone tem muitas complicações relacionadas como: erosão do anel (ele entra para dentro do estômago e daí tem de fazer cirurgia para a retirada) e a migração do anel (ele sai do seu lugar de colocação e desce para os intestinos podendo causar obstrução ou ainda subir pelo estômago remanescente) e causar problemas relacionados que irão provavelmente resultar em nova cirurgia de urgência.
Entretanto, estes cirurgiões FOBI(africano) e Capella(colombiano) conseguiram ampla divulgação dessa técnica aqui na América Latina especialmente no Brasil. Isso devido ao Prof. Garrido, que foi o introdutor da Cirurgia Bariátrica no Brasil, ter feito seu aprendizado com o Dr. Capella (cirurgia de obesidade aberta). A partir do momento que surgiu a cirurgia por vídeo na cirurgia bariátrica o anel passou a ser menos utilizado. Além disso, essa técnica com anel é mais fácil de se fazer, já que a calibração da anastomose gastro-jejunal é mais difícil requer prática, habilidade e treinamento apropriado. E por vídeo mais difícil ainda. O que eu quero dizer é que o mesmo efeito do anel pode ser feito SEM a presença do anel, somente através de técnica operatória inovadora, visando obter o mesmo resultado de restrição alimentar que o anel causa, mas sem ele, o que é bem melhor já que evita as complicações relacionadas deste corpo estranho de silicone. Escreverei em breve outro artigo sobre isso, com mais informações.
GASTRECTOMIA EM MANGA (SLEEVE)
A cirurgia de gastrectomia vertical (Sleeve), comentada no artigo da Veja, não é novidade em termos de cirurgia porque o Sleeve nada mais é do que um dos passos obrigatórios já descritos na cirurgia de Duodenal Switch(DS).
O DS é na verdade uma combinação da cirurgia do Scopinaro e a cirurgia descrita, experimentalmente, para doença do refluxo por DeMeester, em 1987. A primeira cirurgia do DS, adaptada para a obesidade, foi realizada em 1988, apresentada antes em alguns congressos, mas só foi publicada, efetivamente, em 1998 por Hess(nos EUA). Enquanto isso, Marceau, em 1993, publicava no Canadá. Só que a cirurgia de Sleeve, usada isoladamente, por vídeo, sem pertencer ao DS foi descrita em 2003 por Regan (que é do grupo do Michel Gagner).
Mas e porque uma cirurgia que já é realizada desde 1987 vem só "entrar na moda" como cirurgia inovadora em 2009? Porque foi recentemente que o Sleeve começou a ser usado como técnica isolada e está em vias de ser cirurgia aprovada pela sociedade de cirurgia bariátrica.
O sleeve consiste em só transformar o estômago num tubo cilíndrico e bloquear a maior parte da produção de grelina pelo fundo do estômago que é removido.
A novidade é que só fazer o Sleeve já seria suficiente sem precisar dos outros passos da técnica. Realmente, essa cirurgia ainda não foi aprovada no Brasil mas é promissora. Isso porque quem fizer primeiro a cirurgia de Sleeve pode depois, caso não tenha perdido peso suficiente, fazer uma segunda cirurgia e continuar os outros passos até completar todos os passos da cirurgia de Duodenal Switch.
Veja a figura de um Sleeve à esquerda versus um Duodenal Switch à direita:
gastrectomia sleeve
Notar que os dois têm o mesmo corte no estômago que f**a na forma do tubo cilíndrico. Entretanto, o Duodenal Switch tem mais outros dois cortes realizados que são a duodenojejuno anastomose (alça alimentar) e a jejuno-jejunoanastomose (alça bileopancreática). Sempre que é cortado algo esse ponto pode ser motivo de complicação pós-operatória porque podem vazar secreções gastrintestinais por aí. Notar que o Sleeve só tem um corte no estômago e o Duodenal Switch três.
As complicações do Sleeve são:
- Fístula;
- Infecção de ferida operatória;
- Sangramento;
- abscesso.
Referências Bibliográf**as
Mason EE, Ito C.Gastric bypass in obesity.Surg Clin North Am. 1967 Dec;47(6):1345-51.
Laws HL, Piantadosi S. Superior gastric reduction procedure for morbid obesity : a prospective, randomized trial. Ann Surg. 1981;193(3):334-40.
Fobi MA, Fleming AW. Vertical banded gastroplasty vs gastric bypass in the treatment of obesity.
J Natl Med Assoc. 1986 Nov;78(11):1091-8.
Capella RF, Capella JF, Mandec H, Nath P. Vertical banded gastroplasty-gastric bypass: preliminary report. Obes Surg. 1999;1(4):389-95.
DeMeester TR, Fuchs KH, Ball CS et al. Experimental and clinical results with proximal end-to-end duodenjejunostomy for pathologic duodenogastric reflux. Ann Surg 1987; 206: 414-24.
Marceau P, Biron S, Bourque R-A et al. Biliopancreatic diversion with a new type of gastrectomy. Obes Surg 1993; 3: 29-35.
Marceau P, Hould FS, Simard S, et al. Biliopancreatic diversion with duodenal switch. World J Surg. 1998;22:947-54.
Hess DS, Hess DW. Biliopancreatic diversion with a duodenal switch. Obes Surg 1998;8:267-82.
Regan JP, Inabnet WB, Gagner M et al. Early experience with two-stage laparoscopic Roux-en-Y gastric bypass as an alternative in the super-super obese patient. Obes Surg 2003; 13: 861-4.