18/07/2018
"Eu era um terroristinha mesmo"
"Eu merecia"
"Eu era muito teimosa"
"Eu provocava"
Essas frases todas eu retirei de comentários aqui na página mesmo.
Pessoas acreditando que mereceram uns "sarrafos", cintadas, tapas, beliscões, apertões, chineladas, vassouradas, surra de varinha, palmadas na bunda.
Um pedido: por favor, comecem a pensar de maneira menos ilusória sobre isso. Fale sobre tua infância de maneira mais honesta. Pense como se sentia aterrorizada quando apanhava. Não é engraçado. Provavelmente você ri hoje como um mecanismo de defesa, porque provavelmente foi bem assustador, antes, e você sequer quer lembrar disso.
Não estaremos quebrando a confiança dos nossos pais, nem falando mal deles. O caso é que há trinta anos atrás não havia as informações que existem hoje. Eles fizeram o que era o "recomendado".
"Sou uma pessoa de bem e prefiro ter apanhado dos meus pais do que da polícia". Que tal assumir que não precisava ter apanhado de nenhum dos dois?
Que tal assumir que você é um pouco agressivo e não sabe a razão, se revolta fácil e não sabe a razão, sofre com ansiedade e sofre por não saber se relacionar como gostaria? Que tal assumir que se mete em relacionamentos ruins, ou se afasta das pessoas por não confiar?
Que tal assumir que prefere dopar seus sentimentos às vezes? Ou sempre?
Que tal assumir que talvez você não esteja tão bem assim, principalmente emocionalmente, apesar de ser uma pessoa boa?
Que tal começar a perceber que você virou uma pessoa boa por conta dos colos, dos beijos, do tempo passado junto, da diversão e das conversas?
Não é necessário defender a violência pra defender sua família. Se liberte disso, pelo seu bem e pelo bem de outras crianças em outras famílias.
Nós precisamos mudar a forma de pensar a infância, começando pela nossa.