02/12/2025
NÃO DEMITA NINGUÉM NA VÉSPERA DE NATAL!
(texto escrito em 2019, mas continua valendo)
Antigamente havia uma regra implícita e que não constava em nenhum manual de Recursos Humanos: Em hipótese alguma demita alguém na véspera de Natal!
A regra, apesar de intrínseca, era respeitada por todos os chefes da época (não havia a palavra gestor) por um simples motivo: Era desumana ao extremo.
Salvo, óbvio, em situações de roubo ou perigo iminente para a empresa.
Esta regra também valia para os casos de doença em família e mortes recentes.
Mas nos tempos atuais, em que a Gestão de Pessoas é falada em alto e bom som nos cursos de MBA, palestras motivacionais e coachs disso e daquilo, este sentido digamos respeitoso e humano se perdeu. E a tal Gestão se tornou apenas uma manual de normativo focado em resultados. As pessoas, literalmente, estão indo ladeira abaixo, e com elas aquilo que se chamou de Humanidades (a ciência). E salve-se quem puder. E não é à toa que a Reforma Trabalhista foi tão bem aceita pelos empresários. O foco é no lucro. Como diria o Arie de Geus, autor do livro Empresa Viva, são empresas poças da água, que visam somente a economia.
Mas voltemos à demissão antes do Natal. Para a maioria das pessoas do Ocidente o Natal é uma época festiva, em que se ganham presentes. E que espécie de presente é este? Se ganha uma demissão logo nesta data? É o presente da morte.
Costumo dizer que Gestão de Pessoas é igual à vida, ou seja, sua constituição se faz através do tecido Nascimento-Vida-Morte,
sendo o Nascimento todo o processo seletivo; a Vida, o treinamento; e o desenvolvimento (espero que você saiba a diferença) e a Morte, a demissão.
E toda a morte envolve luto. Ficar enlutado em épocas festivas é, além de triste, preocupante, principalmente para pessoas pobres e que nem sempre têm a condição de arrumar um trabalho rapidamente. Por esta razão, os antigos chefes entendiam que, tal como as datas festivas, as doenças ou mortes em família eram desumanas, pois envolviam luto.
Além do mais, bons Gestores de Pessoas sabem que o que envolve todo o processo de Nascimento, Vida e Morte é o feedback. Quem recebe como presente surpresa a demissão nesta época do ano foi muito mal gerenciado, pois nunca recebeu um feedback sobre seu desempenho!
Bom, nem sempre (e na maioria das vezes, segundo os meus mais de trinta anos de experiência) é o desempenho que acarreta uma demissão mas, principalmente hoje, o corte de custos. E aí voltamos novamente para as empresas poças da água. Que são imediatistas e cortam custos, pois sua visão de pessoas, além de escrota, é míope.
E no tripé da Gestão há três fatores: Gestão de Pessoas; Gestão de Resultados; e Gestão de Processos. Estes três fatores devem andar de forma equilibrada.
Gestores que enxergam só Resultados, além de estressarem constantemente os seus funcionários (eufemisticamente chamados de colaboradores), também fazem parte de empresas que terão curta durabilidade. Se afogarão no seu próprio lamaçal!
Escrevo este texto, infelizmente, por um motivo triste. Fiquei sabendo há pouco que um homem demitido no dia de hoje matou duas pessoas e feriu mais uma, além de entrar em conflito armado com a PM. O motivo, segundo a PM, é que ele havia sido demitido. E ele teve, infelizmente, o seu dia de fúria. Óbvio que isto não se justifica em hipótese alguma, mas faz todos nós, Gestores ou não de Pessoas, pensar mais antes de demitir alguém na véspera de Natal. O crime ocorreu justamente quando os funcionários faziam a confraternização. Nada mais simbólico do que isso.
Saudades dos bons RHs, e também dos antigos chefes humanos.
Suely Pavan Zanella
Psicóloga
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