11/12/2025
Ele acordou cedo, como sempre. Aos 100 anos, o corpo já não acompanha todos os desejos, mas o coração ainda sabe esperar.
Na cabeceira, o relógio marcava o mesmo horário de todos os dias, mas hoje não era um dia comum. Hoje ele completava um século de vida.
Sentou-se na poltrona favorita, em frente à lareira. Olhou para as fotos antigas na estante: o sorriso da esposa que já se foi, os filhos pequenos com os joelhos ralados, os netos na formatura. Em cada quadro, um pedaço de história. Em cada ruga do rosto, um capítulo inteiro.
O celular ficou sobre a mesinha, em silêncio. Nenhuma mensagem, nenhuma ligação, nenhum “parabéns, eu lembrei de você”.
Ele não esperava presentes caros, festa grande ou bolo sofisticado. Só queria ouvir a própria existência sendo reconhecida em uma frase simples: “Que bom que você ainda está aqui.”
Enquanto a tarde caía, ele se perguntou quantas pessoas pelo mundo estariam soprando velas invisíveis, sozinhas, fingindo que não doía.
Talvez o seu avô, a sua avó, aquele vizinho que mora sozinho, a senhora que senta sempre no mesmo banco da praça.
Se ele apareceu hoje no seu feed, então pelo menos uma coisa é certa: ele não está mais completamente esquecido.
Que esse rosto te lembre de mandar uma mensagem, fazer uma ligação, escrever um “eu lembro de você” para alguém que talvez esteja esperando em silêncio.
Porque, no fim das contas, o maior presente não é o bolo, nem o presente caro.
É o simples “você é importante para mim” enquanto ainda há tempo de ouvir.