08/12/2025
O mito de Procusto e a armadilha da perfeição corporal
Na mitologia, Procusto recebia viajantes em sua cama de ferro.
Se o corpo fosse maior, ele cortava.
Se fosse menor, ele esticava.
Tudo precisava caber no mesmo molde.
Procusto não suportava a diferença.
Ele não via pessoas via medidas.
Hoje, a cama de ferro mudou de forma.
Ela aparece nas dietas extremas.
Nas cirurgias sem fim.
Na comparação constante.
Na compulsão que castiga.
No vômito que tenta desfazer o excesso.
No corpo transformado em campo de batalha.
O ideal de perfeição continua cortando partes da alma.
Esticando limites psíquicos.
Violentando a relação com o próprio corpo.
O sofrimento não mora na comida.
Mora no olhar que exige.
No padrão que oprime.
No “nunca é suficiente” que nunca se cala.
Talvez a verdadeira libertação seja sair da cama de Procusto , onde nenhum corpo real jamais cabe.