02/12/2025
A Violência, o Silêncio e o Pacto Masculino.
Ao ler o que da Larissa Lima escreveu hoje, fui tomada por uma sensação antiga: aquela estranha mistura entre reconhecimento e incômodo, não apenas o conteúdo, mas o modo como ela sustenta a tensão entre a dor e a lucidez, entre a denúncia e a impossibilidade de seguir acreditando numa “casa” que insiste em nos trair. Fui atravessada por essa imagem da casa que isola não por causa do mundo externo, mas pela maneira como ela mesma foi construída, por quem foi construída, e a quem ela realmente serve.
A partir disso, outras coisas surgiram. Porque a questão que Larissa lança, sobre um homem agressivo acolhido na bolha psicanalítica, não é exceção, é estrutura. E quando falo estrutura, não é metáfora: é o modo como o poder é distribuído, legitimado e naturalizado dentro dos campos de saber.
Os estudos feministas já nos mostram há décadas que o poder dos homens não opera apenas por atos explícitos de violência, mas pela ordem silenciosa que os coloca sempre em posição de credibilidade, autoridade e desculpabilidade. Eles não apenas cometem a violência, eles a administram, ditam suas consequências, escolhem quando ela “importa” e quando deve ser esquecida em nome da suposta grandeza intelectual, da obra, do legado, do “que ele representa”.
É assim que o poder masculino opera: fazendo do mundo uma extensão do seu corpo. E, nesse processo, fazendo dos corpos femininos um território sempre à disposição: sexualizável, descartável, desmentível.
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