Psicóloga/Psicanalista Francinéia Fabrizzio

Psicóloga/Psicanalista  Francinéia Fabrizzio Psicóloga / Psicanalista / Psicopedagoga /Supervisora/ Docente / Palestrante / Escritora / Idealizadora do Instituto Espaço Práxis.

A Orfandandade do DesejoO desejo se recolhe quando não “se” encontra.Não desaparece, se reorganiza na sobrevivência subt...
25/11/2025

A Orfandandade do Desejo

O desejo se recolhe quando não “se” encontra.

Não desaparece, se reorganiza na sobrevivência subterrânea, órfão, não porque lhe faltou alguém, mas porque ninguém o escutou sem medo.

Pessoas exigem presença, mas recusam convivência. Querem aproximação sem fissura. Esse é o movimento em que as relações f**am habitadas por corpos, e desajustadas do impulso que deveria movê-las.

Nas articulações da modernidade, amores e confluências, a predominância não é o encontro, é o arranjo.

Amores sustentados talvez por “conveniência”? Quais riscos estariam implicados a correr?

Casais não porque os corpos e ideais respiram juntos, mas sim pela solidão.

Relações que funcionam na superfície, não acontecem no plano da vibração, aquele espaço onde algo se desloca, se reconhece, se inaugura.

Um sujeito aprendeu a desejar pouco para não precisar perder nada. Reduziu intensidade em nome de previsibilidade, apagou perguntas em nome de estabilidade, transformou vínculo em rotina para não lidar com o que o encontro poderia revelar.

Não é falta do “amor”. É contenção.

É medo da quebra, medo da própria vertigem, medo do descontrole que o outro sempre convoca quando existe “em” verdade.

O resultado é uma vida fantasiosamente organizada, rarefeita, de relações que se mantêm, mas não se atravessam.

Laços que produzem supostas seguranças, mas não produzem surgimento.

E, de vazio em vazio, o desejo f**a órfão não porque não exista, mas porque não encontra lugar. E, quando não encontra mundo, recua, se comprime, se ajusta ao que um outro tolera.

O sujeito, desapropriado de "si" passa a viver em terceira pessoa: funcional, coerente, adaptado… fora do eixo.

Talvez seja esse o ponto mais inaugural.

A intensidade não some, o desejo não desaparece, apenas encontra portas fechadas.

E, se já não encontra passagem, permanece comprimido, subterrâneo, intacto demais para sumir, porém contido o suficiente para incomodar.

Porque o que se oprime não cessa, apenas aguarda, silenciosamente, o instante em que enfim possa emergir sem pedir permissão.

E, no fim, é sempre assim: o que não se vive retorna, não para punir, mas para exigir desfecho.

Psicóloga/Psicanalista Francinéia Fabrizzio

Mulher -  A solidão como  sintoma do novo tempoNo cotidiano contemporâneo, algo se moveu de lugar.A solidão, que durante...
20/11/2025

Mulher - A solidão como sintoma do novo tempo

No cotidiano contemporâneo, algo se moveu de lugar.

A solidão, que durante décadas foi usada como ameaça para controlar o destino feminino, deixou de funcionar como sentença.
Não é mais sinônimo de abandono, falha ou fracasso, é um modo de respirar.

Nas últimas décadas, a mulher madura passou a habitar um território que não existia culturalmente: o de viver a própria vida sem precisar justif**ar a ausência de um vínculo conjugal. Aos 40, 50, 60 anos, ela reorganiza o cotidiano, cria rituais, refaz rotas, experimenta o silêncio e sabe que estar só não é ser metade, mas ter corpo inteiro para ocupar.

Essa mudança também atravessa a dimensão profissional.

A mulher contemporânea se apropria do trabalho como extensão da própria existência, não mais como lugar de sacrifício ou prova de valor.

Ela assume funções, cria projetos, sustenta decisões, administra o próprio dinheiro e reconhece o prazer de construir algo que pertence a ela, sem pedir autorização nem reduzir sua vida ao vínculo conjugal.

O trabalho deixa de ser sobrevivência e passa a ser campo de criação, autonomia, prazer e presença.

A mudança não acontece apenas no campo privado; ela atravessa o imaginário social.

O discurso antigo o que dizia que a mulher separada, solteira ou sem filhos estava “descartada" ... "sem lugar" já não explica mais nada.

Esse discurso ainda circula, principalmente em espaços onde o cotidiano não conseguiu acompanhar a mudança, mas perdeu efeito. Não protege, não convence, não prende.

A mulher contemporânea não pede desculpas por existir fora da lógica do altruísmo.

Ela viaja, estuda, se desafia, faz escolhas afetivas com liberdade e descobre prazeres que não dependem da validação de ninguém: uma tarde só dela, um café sem pressa, um corpo que deseja sem dever, um cotidiano que não precisa justif**ar alegria ou descanso.

O prazer feminino amadureceu: já não é o prazer de agradar, mas o de existir.

A solidão feminina, hoje, não é ausência de vínculos. É presença de si. É a possibilidade de construir um cotidiano que não gira em torno da expectativa do outro ou de um lugar social.

É encontrar prazer em espaços que antes eram apresentados como punição: uma noite sozinha, uma cama arrumada para uma só pessoa, o corpo que antes era dessexualizado pelo olhar social, e a liberdade de entrar e sair do próprio tempo, sem justif**ativas, receios ou medos infundados.

No fundo, o que se vê é um deslocamento histórico.

A mulher madura não representa mais o fim de uma etapa, mas o início de um tempo singular.

Representa um sintoma do novo tempo: um tempo em que o laço não precisa ser prisão, o amor não precisa ser contrato e a vida adulta não precisa seguir roteiro de gratidão.

A solidão que antes era usada como medo pelos jargões sociais virou escolha.

A escolha que antes era falta virou possibilidade.

E a possibilidade que antes era ameaça tornou-se um território feminino múltiplo, livre, lúcido no qual a mulher encontra não apenas autonomia, mas o prazer de existir por ela. Já não se trata de solidão, mas de um ato de amor

Psicóloga/Psicanalista Francinéia Fabrizzio

Análise e Ressignif**ação — Diálogos com o InconscienteNa psicanálise, não há ressignif**ação sem análise.Ressignif**ar ...
14/11/2025

Análise e Ressignif**ação — Diálogos com o Inconsciente

Na psicanálise, não há ressignif**ação sem análise.

Ressignif**ar não é “ver de outro jeito”, nem “mudar o signif**ado” de algo vivido. É muito menos uma decisão consciente e muito mais o que acontece quando a palavra finalmente alcança aquilo que antes só aparecia como dor, silêncio ou repetição.

A fala que retorna, o gesto que se repete, o sintoma que insiste são modos pelos quais o inconsciente tenta dizer o que ainda não encontrou corpo na linguagem. O sujeito repete não porque escolhe, mas porque está capturado por uma cena que ainda o convoca.

A análise faz essa repetição aparecer. E, quando ela aparece, algo do enlaçamento se desloca: não o fato, mas a posição do sujeito diante dele.

Por isso, ressignif**ar não é reescrever o passado, nem mudar o enredo.

É escutar a mesma história a partir de um lugar onde o sujeito já não é tomado da mesma forma.

A dor não desaparece, mas deixa de ser a única resposta possível.

O afeto encontra palavra, o silêncio ganha contorno, e o que antes só se repetia pode, enfim, ser elaborado.

Freud nos mostrou que o que transforma não é a lembrança em si, mas a possibilidade de inscrever o recalcado em outra trama quando o que era ato encontra lugar de fala. Klein ampliou esse campo ao mostrar que a elaboração envolve suportar que amor e ódio coexistam no mesmo objeto, sem que um destrua o outro.

Winnicott nos leva a uma dimensão ainda mais funda: a ressignif**ação não é apenas trabalho simbólico é um acontecimento de ser.

Ela só se torna possível quando a experiência é sustentada por um holding: uma presença que contém sem invadir e suporta sem abandonar.

É nesse espaço intermediário — o playing — que o sofrimento pode ser vivido sem se tornar fragmentação.

Ali, o sujeito começa a experimentar algo novo: um lugar onde o que sente pode existir sem risco de aniquilação. É encontro.
Não é vontade, é reorganização do existir.

Nesse espaço, o analisando não “muda” sua história; ele reencontra vida onde antes só havia defesa.

Por isso, ressignif**ar, na análise, não é dar outro destino ao acontecimento, mas permitir que o acontecimento deixe de comandar o destino do sujeito.

O passado não se altera; o que se altera é a forma de submissão a ele. Quando a palavra alcança o ponto onde antes só havia repetição, o sujeito não troca de história ele ganha história.

Psicóloga / Psicanalista
Francinéia Fabrizzio

O Contra-Ego - "Eu" Existo ? O ego é uma das instâncias da estrutura psíquica que reúne funções conscientes e inconscien...
12/11/2025

O Contra-Ego - "Eu" Existo ?

O ego é uma das instâncias da estrutura psíquica que reúne funções conscientes e inconscientes. É nele que se forma a imagem de si e se organizam as representações que sustentam o sentimento de identidade.

O contra-ego é uma subestrutura intrapsíquica que se opõe às partes sadias do ego.
O termo foi desenvolvido por Pierre Marty,

Michel Fain e Michel de M’Uzan, integrantes da Escola Psicossomática de Paris, para descrever uma organização interna patológica, proveniente do próprio ego, que atua contra as forças de ligação, simbolização e vitalidade psíquica.

Ao contrário das defesas que buscam preservar o equilíbrio psíquico, o contra-ego opera como uma instância que sabota: ele transforma a energia do próprio eu em obstáculo ao desejo e à criação.

Trata-se de uma estrutura autodestrutiva, sutil e persistente, que o sujeito mantém como se fosse uma forma de proteção, mas que, na verdade, impede o crescimento e o contato com a própria vida psíquica.

Marty (1980) descreve essa formação como uma espécie de “engenharia interna da autossabotagem”, um jogo entre forças psíquicas que utilizam os recursos do ego para agir contra ele mesmo.

Essa dinâmica é resultado de um modo de funcionamento mental rígido, com pouca mobilidade pulsional e escassa capacidade de simbolizar.

Quando o ego perde sua plasticidade e a vida psíquica se empobrece, uma parte dele passa a exercer funções destrutivas, o que Pierre Marty denominou de “funcionamento operatório”: uma organização psíquica empobrecida, onde as palavras deixam de ter densidade simbólica e a energia é desviada para a repetição e a somatização.

O contra-ego, então, se manifesta como um jogo interno de boicote e resistência, no qual o sujeito se torna ao mesmo tempo autor e vítima.

O sofrimento se mantém por fidelidade inconsciente a comandos internos ideais, culpas e proibições gravadas na estrutura egoica, às vezes desde a infância, que o sujeito já não consegue renunciar.

Ele acredita estar se protegendo de algo, quando na verdade está sendo dominado por uma parte de si que teme o risco de viver.

Na prática clínica, o contra-ego aparece quando o paciente, diante da iminência de mudança, se paralisa, abandona o tratamento ou retorna aos mesmos padrões de fracasso, culpa e autodesvalorização.
Pierre Marty e Michel Fain observaram que essa força não é mera resistência, mas uma organização coerente do funcionamento psíquico o próprio ego transformado em força contrária à sua expansão.

O contra-ego é, portanto, uma organização interna de autossabotagem, uma forma de coerência patológica que preserva o sofrimento para evitar o desamparo.
Ele não apenas resiste à mudança, mas impede o sujeito de se encontrar com a própria subjetividade.
Entre as formas mais comuns de sua ação, destacam-se:

1. A existência narcisista em que o sujeito permanece aprisionado a objetos internos idealizados ou ameaçadores, que prometem segurança, mas o afastam da autenticidade e da espontaneidade.
Isso se manifesta, por exemplo, em pessoas que precisam parecer fortes o tempo todo, incapazes de pedir ajuda ou mostrar fragilidade; ou naquelas que vivem em função da aparência e da performance, buscando aprovação constante, mas sentindo um vazio crescente.
Em outros casos, o contra-ego aparece quando o sujeito sabota oportunidades de alegria ou descanso, por acreditar que relaxar é sinal de fraqueza como se o sofrimento fosse o único modo legítimo de existir.

2. A obediência ao ideal herdado quando o sujeito permanece fiel a papéis e expectativas que já não lhe pertencem, perpetuando identif**ações que o impedem de viver de forma criativa e singular.
Isso acontece, por exemplo, com o adulto que ainda se sente responsável pela felicidade dos pais, o profissional que escolheu uma carreira apenas para corresponder ao ideal familiar, ou a mulher que se culpa por desejar uma vida diferente da que aprendeu a servir.
São formas de lealdade inconsciente que aprisionam o sujeito ao passado e o afastam do próprio desejo.

O contra-ego descreve, em última instância, o ponto em que o sujeito se confunde com o próprio ideal, perdendo a capacidade de se diferenciar do olhar do outro.

A tarefa analítica consiste em permitir que o sujeito reconheça essa estrutura interna, restitua o movimento simbólico e recupere a autoria sobre a própria história psíquica.

Psicóloga/Psicanalista Francinéia Fabrizzio

*** Nota teórica

O termo “contra-ego” (contre-moi) foi formulado por Pierre Marty, Michel Fain e Michel de M’Uzan (Escola Psicossomática de Paris, década de 1970–1980), para designar uma organização intrapsíquica de caráter autodestrutivo.

Segundo Marty (L’Ordre Psychosomatique, 1980), trata-se de uma instância do próprio ego que trabalha contra o ego, limitando a simbolização e a energia vital do sujeito, e contribuindo para o desenvolvimento de sintomas repetitivos e somatizações.

A Queda do Ideal e o Colapso dos Laços: Notas sobre o Sujeito Diante da Rachadura do EspelhoEm toda economia psíquica, o...
11/11/2025

A Queda do Ideal e o Colapso dos Laços: Notas sobre o Sujeito Diante da Rachadura do Espelho

Em toda economia psíquica, o ideal exerce uma função estruturante. É ele quem organiza o campo do desejo, oferecendo ao sujeito uma imagem de coerência e um ponto de ancoragem simbólica.

O problema emerge quando o ideal se torna o único eixo possível de sustentação quando o sujeito se confunde com o próprio ideal, e a onipotência deixa de ser uma defesa transitória para se tornar forma de existência.

A onipotência é, nesse sentido, um arranjo narcísico que mascara a falta.

Ela se apresenta como força, mas é sustentada pelo medo: o medo de cair, de falhar, de decepcionar o Outro.

Trata-se de uma economia de sacrifício, em que o sujeito só se reconhece quando cumpre o papel de “quem dá conta”.

Nesse campo, os laços também se organizam sob o mesmo pacto imaginário: os vínculos se constroem na medida em que cada um ocupa um lugar no espelho do outro um precisa ser forte para que o outro permaneça frágil, um precisa ser completo para que o outro se sustente na falta. O espelho, portanto, não é apenas reflexo, mas contrato inconsciente.

Quando essa estrutura começa a ruir seja por uma perda real, por um adoecimento ou pela simples experiência de esgotamento o que entra em colapso não é apenas a força, mas o próprio ideal que dava sentido ao laço.

Os vínculos que se sustentavam na fantasia do Outro pleno se desorganizam, porque não há mais espelho inteiro a garantir a consistência do Eu e do Outro.

O colapso simbólico, nesse contexto, não é apenas um desamparo; é uma falência da função idealizante que permitia nomear e estabilizar o real.

Diferente da neurose, que ainda opera dentro de uma gramática simbólica (onde há ideal, queda e elaboração), o colapso simbólico é o ponto em que o ideal deixa de existir como referência possível.

Não se trata mais de dizer “O onipotente morreu”, mas de constatar que “ O onipotente nunca existiu”.

A falta não se simboliza; o tempo psíquico se fragmenta.

Diante dessa rachadura, o sujeito só tem dois caminhos: recuar para defesas mais primitivas congelar, atacar, apagar ou atravessar o desabamento e construir outro tipo de sustentação.

Essa travessia não é a busca de um novo ideal, mas o início de uma outra relação com a falta uma que não se apoie mais na onipotência, mas na legitimidade do limite.

Reencontrar o simbólico é reconhecer que o espelho sempre esteve rachado, e que é justamente por ele ser rachado que o sujeito pode se ver.

O colapso, quando não destrói, inaugura.
É nesse instante em que o ideal cai, e o sujeito descobre que pode existir sem ele que se inaugura a possibilidade de uma nova forma de laço: não mais fundada na completude, mas na presença real, imperfeita e humana.

Psicóloga/Psicanalista Francinéia Fabrizzio
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“Feridas de Origem: o Inconsciente Familiar e a Transmissão do Sofrimento”As feridas geradas no círculo familiar não se ...
10/11/2025

“Feridas de Origem: o Inconsciente Familiar e a Transmissão do Sofrimento”

As feridas geradas no círculo familiar não se encerram no tempo em que foram vividas. Elas tendem a permanecer como traços inconscientes que atravessam gerações, moldando modos de amar, reagir e desejar.

A psicanálise entende que o que não pôde ser simbolizado o não-dito, o não pensado, o silenciado se transmite de forma enigmática, seja por repetições, sintomas ou escolhas afetivas que parecem não pertencer inteiramente ao sujeito.

O campo familiar é, antes de tudo, um espaço de inscrição. É nele que o sujeito é introduzido à linguagem, mas também aos interditos, às idealizações e às faltas que estruturam o desejo.

As carências e os vazios não se reduzem a uma ausência de afeto, mas muitas vezes à impossibilidade de reconhecimento simbólico um olhar que não se sustentou, uma palavra que não veio, uma presença que foi excessiva ou invasiva.

Freud já sugeria que o trauma não está apenas no acontecimento em si, mas na forma como ele é inscrito na psique; e, muitas vezes, o que fere é justamente o que não pôde ser nomeado.

Essas marcas, herdadas e transformadas, compõem o tecido das alianças inconscientes descritas por Kaës, pactos silenciosos que mantêm o sujeito preso à dor do outro, tentando reparar o irrepresentável de uma história que o antecede. Há quem busque, nas relações amorosas ou profissionais, reencontrar esse ponto de origem para tentar curar o que ficou em suspenso. Mas o que se repete, em geral, é o desejo de sutura, de fechamento de uma ferida que talvez precise permanecer aberta o bastante para permitir elaboração.

Não existe reparação plena para o que foi ferido na origem. O que pode se construir é uma borda um contorno simbólico que permita transformar o irrepresentável em palavra. O trabalho analítico não busca suprimir o vazio, mas oferecer ao sujeito a possibilidade de habitá-lo, de reconhecer ali um campo de criação. É nesse movimento que ele passa a fazer de sua própria palavra um gesto de continuidade, substituindo a repetição cega da dor por uma apropriação viva de si, onde antes só havia eco de perda e sofrimento.

Psicóloga/Psicanalista Francinéia Fabrizzio 9

Sou uma possibilidade impossível - Entre o  amor e a lei - O Édipo. "O amor fundou a tragédia antes de fundar o homem" O...
06/11/2025

Sou uma possibilidade impossível - Entre o amor e a lei - O Édipo.

"O amor fundou a tragédia antes de fundar o homem"

O Édipo, para Freud, é mais do que um mito.

É uma estrutura fundante da vida psíquica o momento em que a criança descobre que o amor que sente pela mãe (ou pela figura primordial de cuidado) encontra um limite, e que existe uma lei que a impede de possuir o outro por inteiro.

Esse limite simbolizado pelo pai, pela interdição, pela presença de uma terceira instância inaugura o que a psicanálise chama de castração: a experiência de que o desejo sempre será atravessado por um impossível.

A partir dessa ferida, nasce o sujeito.
É pela perda que o desejo se organiza, é pela interdição que o laço se torna possível.

Mas para atravessar o Édipo é preciso um recurso simbólico algo que permita ao sujeito transformar o impossível de completude em palavra, criação, vida.

Quando isso não acontece, o sujeito permanece investido no Édipo: preso à fantasia de que um dia será amado como queria, reconhecido sem falta, salvo sem perda.

E é aqui que o mito se torna cotidiano.

Uma pessoa ainda investida no Édipo é aquela que espera do mundo uma resposta que ele não pode dar.

Que acredita que o amor, a amizade, o trabalho ou o sucesso serão formas de restituição.

Como se, em algum ponto, algo tivesse sido tirado e a vida inteira fosse um movimento de tentar recuperar o que se perdeu.

Essa busca, às vezes, é disfarçada de generosidade: o sujeito que cuida demais, que se doa demais, que se oferece até se esvaziar.

Outras vezes, se mostra como exigência:
quem cobra atenção, reconhecimento, fidelidade absoluta.

Ou como fuga: quem se afasta antes que a falta apareça, quem troca de caminho sempre que o vínculo ameaça durar.

O Édipo vive nessas repetições silenciosas.
Nas amizades onde se exige exclusividade,
nos amores que pedem garantias,nos trabalhos onde a entrega vira sacrifício.

Está em quem não suporta a hierarquia e também em quem precisa dela para existir.
Em quem precisa ser visto para se sentir vivo.

Sustentar o limite é o que mais fere o sujeito edípico.

Porque o limite lembra a falta e a falta lembra a castração.

Mas é justamente aí que o desejo se organiza:
no ponto em que o “tudo” se desfaz e o sujeito pode, finalmente, criar algo seu.

A travessia do Édipo, no fundo, é aprender a viver sem testemunhas.

A suportar não ser amado o tempo todo, a não ser compreendido, a não ser escolhido e, ainda assim, continuar desejando.

Não se trata de desistir do amor,
mas de permitir que o amor exista fora do espelho.

No cotidiano, atravessar o Édipo é parar de viver em reparação.

É deixar de esperar que o outro conserte o que o destino fraturou.

É transformar o desejo em criação, não em cobrança.

É amar sem querer ser o centro, trabalhar sem buscar resgate, viver sem precisar vencer ninguém.

E talvez, nisso, resida o que Freud chamava de maturidade psíquica: quando o amor deixa de ser refúgio e passa a ser encontro entre duas faltas que se reconhecem, entre dois desejos que se sustentam no mesmo impossível.

Psicóloga/Psicanalista Francinéia Fabrizzio

As Chamas do Feminino — O Malleus Malef**arumO Malleus Malef**arum  em latim, O Martelo das Bruxas  foi um manual inquis...
31/10/2025

As Chamas do Feminino — O Malleus Malef**arum

O Malleus Malef**arum em latim, O Martelo das Bruxas foi um manual inquisitorial publicado em 1486, usado para identif**ar, julgar e condenar mulheres acusadas de bruxaria. Mais do que um livro, ele simboliza o martelo histórico que caiu sobre o corpo e o saber feminino, transformando o medo em instrumento de poder.

As relações humanas sobretudo as que atravessam o feminino são tecidas por poderes simbólicos. Esses poderes moldam a visão de mundo e a realidade das pessoas, sustentando crenças, costumes e hierarquias invisíveis.

As bruxas sempre foram e continuam sendo o elo entre mito e razão, entre ficção e realidade. Elas habitam o campo do imaginário coletivo, onde cultura e medo se misturam. Foram parteiras, curandeiras, benzedeiras, mulheres que conheciam a terra, o corpo e o mistério — e que, por isso mesmo, precisaram ser silenciadas.

Aquelas que a história e o imaginário popular chamaram de “bruxas” carregam em si o exílio e a força. Foram torturadas e queimadas para sinalizar os perigos de saberes à margem da Igreja e das instituições dominantes da Idade Moderna. No fogo das fogueiras da Contra-Reforma, queimava-se o corpo da mulher e, com ele, o saber sobre a vida e a morte herdado das tradições pagãs.

Fêmea inebriante ou velha decrépita, a figura da bruxa expressa os conceitos que o pensamento ocidental projetou sobre o feminino. Essa imagem foi construída por discursos antagônicos: o romântico, que idealizou a mulher como musa e mistério; e o eclesiástico, que a condenou como tentação e heresia.

Hoje, observa-se o retorno de uma geração de mulheres que buscam reconectar-se à natureza instintiva e selvagem. Mas essa reconexão também desperta o medo ancestral — o medo da própria condição feminina, de sua potência e de seu fogo.

O desejo de reencontrar-se consigo mesma, e o confronto com o inquisidor interno, compõem a travessia simbólica das mulheres contemporâneas. Estão elas recolhendo as cinzas das que vieram antes? Carregam ainda a herança do medo? Ou caminham em direção ao fogo da transformação, onde o que antes queimava passa, enfim, a iluminar?

Psicóloga Francinéia Fabrizzio

29 de outubro — Dia Nacional do LivroHá livros que não apenas se leem — eles nos leem de volta.São aqueles que atravessa...
29/10/2025

29 de outubro — Dia Nacional do Livro

Há livros que não apenas se leem — eles nos leem de volta.

São aqueles que atravessam o tempo, acolhem o que não pôde ser dito e devolvem à palavra um corpo possível.

Um livro é mais do que páginas encadernadas: é o território onde o pensamento repousa e a alma desperta.

É ali que a escuta se escreve, que a dor encontra nome, que a vida se reconhece como narrativa e não apenas como passagem.

Celebrar o Dia Nacional do Livro é lembrar que a leitura é também um gesto clínico:
ler é escutar, e escrever é cuidar daquilo que ainda busca forma.

Instituto Espaço Práxis
A escuta que se escreve.

O Medo do Novo Disfarçado de Força “Um dos grandes traumas no ser humano por chegar ao último lugar é não ser o primeiro...
23/10/2025

O Medo do Novo Disfarçado de Força

“Um dos grandes traumas no ser humano por chegar ao último lugar é não ser o primeiro dentro de si.”
(Frade)

A resistência nem sempre se apresenta como recusa.

Às vezes, ela se veste de autonomia, de certeza, de coragem racional.
O sujeito diz que está decidido, que sabe o que quer, que já superou e, ainda assim, algo nele permanece imóvel.

Na psicanálise, Freud descreve a resistência como um mecanismo de defesa do eu.
Ela surge quando o inconsciente tenta fazer emergir algo que o sujeito não suporta ainda reconhecer um desejo, uma lembrança, uma dor.

O ego, regido pelo princípio de realidade, reage tentando preservar sua forma.

Resiste ao que ameaça romper o equilíbrio que sustenta a identidade.

Quanto mais o inconsciente se aproxima, mais o eu levanta suas defesas: racionaliza, se justif**a, silencia, se endurece.

A resistência é, portanto, o ponto de conflito entre o desejo e o medo da mudança.
Protege o sujeito daquilo que poderia transformá-lo, mesmo que essa transformação fosse exatamente o que ele precisa.

É o medo do novo travestido de força o disfarce que mantém o sintoma funcionando sob a aparência de controle.

O eu cria justif**ativas, raciocínios, planos.
Chama de coerência o que, na verdade, é medo de se perder.

Chama de escolha o que é defesa.
E quanto mais acredita estar no comando, mais se afasta daquilo que o habita em silêncio.

Resistir é tentar sustentar a velha forma diante da ameaça de mudança.

É o ego dizendo “não preciso”, quando o inconsciente já começou a abrir espaço para o que insiste em nascer.

Por isso, a resistência é paradoxal: protege, mas aprisiona; garante continuidade, mas impede o movimento.

Há, no fundo, um desejo tentando atravessar a couraça.

Mas o sujeito teme o que viria depois: o desconhecido de si, o descontrole, o possível colapso da imagem que construiu para sobreviver.

Então ele permanece onde está chamando de força o medo que o impede de ir.

A resistência não é o contrário do desejo.
Ela é o seu limite.

O ponto em que o eu se defende do que poderia libertá-lo.

" E é quando o medo se reconhece como medo
que o novo, enfim, começa a existir "

Psicóloga/Psicanalista Francinéia Fabrizzio

O fetiche do saberHá quem se esconda atrás das palavras.Quem acumule teorias, livros e diplomas não por amor ao saber, m...
22/10/2025

O fetiche do saber

Há quem se esconda atrás das palavras.
Quem acumule teorias, livros e diplomas não por amor ao saber, mas por medo do que o "não" saber poderia abrir.

Esse saber universitário, respeitável e meticulosamente organizado, às vezes serve mais para conter o inconsciente do que para tocá-lo.

Porque pensar também é uma forma de calar.

O sujeito erige frases como quem constrói muros: ordena o que sente, argumenta o que sangra, explica o que o corpo apenas queria viver.

E nessa tentativa de dar forma ao indizível, o desejo se curva à gramática.

Freud dizia que o pensamento pode substituir o afeto e é exatamente isso que o fetiche do saber produz: um saber que consola, mas não transforma.Um saber que serve de anestesia, não de travessia.

A inteligência, quando teme o desejo, vira armadura.

A razão, quando teme a perda, vira máscara.
E o sujeito, orgulhoso de sua lucidez, esquece que também tem um corpo.

Acumular "saberes" é sua maneira de se manter intacto.Empilha palavras como quem cimenta a própria falta.

Recobre o silêncio com discursos, citações, certezas, tudo para não ouvir o barulho do que pulsa.

Mas o que pulsa não aceita ser domesticado.
Ele volta nas frestas da fala, nos sonhos, nas falhas da memória.

Volta no instante em que o sujeito se distrai e diz o que não queria dizer.

O fetiche do saber é belo, é culto, é respeitável.
Mas também pode ser o modo mais discreto de negar o próprio desejo.

Psicóloga/Psicanalista Francinéia Fabrizzio

Boa noite a todos, acabo de descobrir uma conta no instagram fake, peço  para denunciarem. Não sou eu.
18/10/2025

Boa noite a todos, acabo de descobrir uma conta no instagram fake, peço para denunciarem. Não sou eu.

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