22/11/2018
O FANTASMA DA CRÍTICA
"Quando o processo criativo entra em pane, sentimos uma insuportável sensação de aprisionamento, que é a antítese daquele estado de espírito alerta e brilhante a que nos referimos como "desaparecer". Em vez de experimentar uma concentração relaxada e energética, nos atiramos avidamente sobre qualquer coisa que nos distraia, por mais trivial ou ridícula que seja; nos cansamos facilmente; quando olhamos para trás, nada no nosso trabalho nos agrada; nossas pálpebras pesam, nosso olhar se embaça, as células de nosso cérebro parecem paralisadas.
A pessoa criativa pode ser vista como a incorporação ou a expressão de duas personagens interiores: a musa e o revisor. (...) A musa propõe e o revisor dispõe. O revisor critica, dá forma e organiza o material bruto gerado no livre jogo da musa. Mas se o revisor preceder a musa em vez de segui-la, teremos problemas. Se o artista julga seu trabalho antes que haja algo a julgar, ocorre um bloqueio ou uma paralisia. A musa é criticada antes mesmo de se manifestar.
Se o artista perde o controle, a crítica interior assume o papel de um pai severo e punitivo. Trata-se de um fantasma inibidor que ceifa a vida de muitos artistas, uma força invisível, judiciosa, opressora que parece se interpor em nosso caminho." - NACHMANOVITCH, Stephen. SER CRIATIVO - o poder da improvisação na vida e na arte. São Paulo: Summus, 1993.
A respeito do processo criativo podemos pensar em expandir tal conceito para além da criação artística, assim como afirma Rollo May, a criatividade está em todo fazer humano. Diante disso, perguntamos: como está esse processo dentro de você? Quem mais te acompanha: a musa, dando inspiração, ou a revisora, antecipando erros?
imagem: tumblr dancetale