18/06/2019
Tinha esquecido de ter escrito isso...
Caso a orientação sexual fosse influenciável de modo que tivéssemos que "proteger" nossos filhos da existência de outras possibilidades de relação que não a heterossexual, não haveriam homossexuais! A heteronormatividade daria conta de "influenciar" qualquer desviante da norma e não haveriam g**s, lésbicas, trans, nada disso! Muito pelo contrário, para se afirmar com existências fora da normal nós enfrentamos muitas barreiras, nos sentimos diferentes, sujos, não aceitos. Lembro que um dia estava vendo uma novela com meu pai, onde tinha um casal gay, eu criança mas já ciente de que não seria "normal", não lembro o que achei daquilo, mas me lembro do meu pai que disse: "Já pensou Rodrigo, você me dizer que vai me apresentar um namorado?". Eu devo ter balbuciado um "nunca" ou "jamais" que não convenceu ninguém! Fui ali mega influenciado pelo meu pai, minha referência, minha base, de que era ruim, feio, inaceitável, ser o que eu já sabia que era. Se um pai, a família, a pressão social que dita as formas aceitáveis de ser, de viver, não me influenciaram a ser hétero, ter contato com o fato de existirem homens que se relacionam com homens, mulheres com mulheres e outros modelos, seja na novela, na rua, na discussão na escola, em qualquer lugar, também não fará alguém hétero se tornar homossexual. E a proposta do caderno, pejorativamente chamado de kit gay não é um meio de influenciar e criar uma geração de homossexuais. Isso foi o que foi usado, de forma falsa, como muitas fake news, para ativar a defesa de uma população ainda não curada do preconceito. Tem funcionado parece! É uma iniciativa de auxiliar professores a lidar com uma demanda da sala de aula, que é a homofobia, a legitimação e reprodução do preconceito e o importante papel da escola nisso. Mas está sendo pintada como um meio de sexualizar crianças, o que seria no mínimo nojento, nunca foi isso, não é! Por isso leia o caderno, pesquise, não saia tomando por verdades notícias sem fundamento! Se isso tivesse acontecido na minha época, talvez eu tivesse sofrido menos. Talvez eu não tivesse vergonha de ir comprar comprar pão, pois ouvia o coro dizendo: "Viadinho, bichinha...". Talvez as pedradas, mesmo aquele dia em que jogaram uma madeira com fogo em mim, não doessem tanto. Talvez eu não tivesse hoje uma dificuldade de me relacionar, talvez eu aceitasse mais facilmente que sou digno do que conquistei, do que me tornei! Estou vivo, me formei, tive o privilégio de manifestar meus dons e todos me identificam pela minha alegria. Mas os próximos, os íntimos souberam e sabem dos meus buracos, tropeços e dificuldades. O que chamam de kit gay só foi uma forma de evitar que o medo do desconhecido continue perpetuando o preconceito, cindindo relações sagradas, fazendo mães se envergonharem de seus filhos, pais espancarem, expulsarem mesmo sentindo o inevitável nó na garganta de que algo não vai bem. Foi feita para que menos adolescentes vejam na morte a saída. Só foi feita para que um grupo de humanos possa ser olhado com igualdade e respeito. Pra que talvez seu filho possa superar o preconceito e suas horríveis conseqüências de forma mais leve e amorosa que eu você!
Por: Rodrigo Dias