22/10/2025
Não quero que minhas netas repitam a tristeza que me ensinaram. "Eu também fui mulher antes de ser avó". Às vezes olham para mim e acham que nasci com cabelos brancos, que sempre fui paciente, sábia e tranquila. Mas não, antes de ser avó, eu era mulher. Uma mulher que não sabia se amar, que engoliu lágrimas inteiras para não incomodar ninguém. Venho de uma linhagem de mulheres que cresceram agradecendo migalhas porque lhes ensinaram que pedir mais era pecado. Minha mãe dizia: "Melhor com um homem mau do que sozinha com os filhos", e minha avó repetia que "uma mulher sem marido é como uma casa sem teto". E olha que ironia: elas tinham marido. E ainda chovia lá dentro. Eu fui criado para servir, não para brilhar. Me ensinaram a cozinhar bem, não a pensar direito. Obedecer, não escolher. Segurar, não voar. E assim cresci acreditando que amor era suportar, que dor fazia parte do acordo. Casei jovem, convencida de que o amor era sacrifício. E eu sacrifiquei-me. Cozinhei com febre, pari calada, dormi com medo. Tudo para que ninguém dissesse que eu era uma má esposa, porque no meu tempo a reputação valia mais que a felicidade. Um dia olhei no espelho e não reconheci meus olhos. Eles tinham envelhecido antes da minha pele. Aí eu entendi: não era o tempo, era a tristeza acumulada.Toda a vida me disseram que me amar era egoísmo. Hoje, a partir destes anos, entendo que o egoísta foi não o ter feito antes. Você mulher, quebre a linhagem da dor. Não viemos a esta terra para repetir a história, mas para corrigi-la. Amar você não faz de você uma mulher, má faz de você a primeira corajosa da sua família.