24/07/2025
De tempos em tempos, surge nas redes um novo “desejo coletivo”. E, dessa vez, é o “morango do amor” que consiste na fruta fresca envolta por brigadeiro branco e coberta por caramelo vermelho, tendo como referência à maçã do amor. Já vi embalado por vídeos bem editados, sorrisos satisfeitos e a promessa de uma experiência inesquecível.
Mas o que faz esse doce virar febre? O sabor, ou o desejo de pertencer?
Na psicanálise, sabemos que o desejo não nasce do objeto em si, mas do olhar do Outro.
O que isso quer dizer? Que não é o morango que se deseja, mas a experiência de estar incluído, de fazer parte.
O fenômeno do “morango do amor” escancara o quanto nosso desejo pode ser capturado pela lógica do Ideal do Eu, conceito freudiano que se refere à instância psíquica que orienta o sujeito a buscar aquilo que acredita que deve ser, a partir da identif**ação com as imagens idealizadas que circulam no campo social.
E as redes sociais, com seus algoritmos, impulsionam exatamente esse ponto: não basta ser, é preciso parecer estar dentro da tendência. Comer o morango não é sobre o gosto, mas sobre performar um pertencimento.
Lacan também nos alerta sobre o gozo: aquilo que vai além do prazer, que toca no excesso, no imperativo do “você tem que experimentar”. Há algo de compulsivo no consumo do que viraliza.
O sujeito é convocado a g***r, mesmo que não deseje de verdade. “Todo mundo está provando, você ainda não?” é a mensagem subliminar que pulsa a cada story repostado, a cada vídeo que viraliza.
O “morango do amor” se torna então um signif**ante de pertencimento. Uma metáfora comestível do supereu contemporâneo: “goza, aparece, compartilha”.
É preciso cuidado. Porque o desejo, quando capturado por essa lógica do Outro, pode se transformar em angústia. Afinal, quanto mais se tenta seguir o que o Outro quer, menos se escuta o que de fato se quer.
Talvez a pergunta mais pertinente diante dessas febres seja:
Se ninguém estivesse postando, eu ainda desejaria por isso?
Jéssica Tuanne