16/09/2020
Sobre afetividade e solidão da mulher negra...
Nesse texto, bell fala de um amor que foi influenciado pela opressão de um povo. Ela nos convida a revisitar a história, a fim de percebermos uma das influências da escravidão na vida dos negros. Para sobreviverem, tinham que reprimir seus sentimentos, pois paixão, amor e qualquer outro sentimento relacionado a isso os deixavam mais vulneráveis e tornava a vida mais difícil em um contexto muito hostil em que eram apenas corpos. Como sentir e demonstrar amor se você não sabia quanto tempo ia continuar com a pessoa amada? A qualquer momento pessoa amada podia ser vendida e separada de você. O povo negro precisou desenvolver como defesa a capacidade de reprimir suas emoções, principalmente o amor. Isso gerou uma ferida histórica e transgeracional que nos acompanha até hoje. Acabamos reproduzindo isso em nossas relações, não se achando merecedora de ser amada por alguém, muitas vezes nem por nós mesmas.Você, mulher negra, quantas vezes achou que não ia ser feliz em um relacionamento? Quantas vezes não foi escolhida pela pessoa que estava interessada? Você já ficou com alguém, mesmo sem vontade por que finalmente alguém te "escolheu"? Quantas vezes você mudou seu corpo para ficar mais parecida com sua amiguinha branca e finalmente se sentir melhor? Essas são apenas algumas questões que já aconteceram comigo e muito provavelmente com qualquer outra mulher preta que você conheça. Em uma sociedade onde sempre prevaleceu a supremacia dos brancos, as opressões causadas pelo racismo geram um sentimento de inferioridade, afetando diretamente nossa autoestima. Muitas mulheres negras acabam não se permitindo conhecer esse tipo de amor, ao qual a sociedade padrão conhece, porque ela tem que ser forte e precisa ensinar a sua filha a ser forte.Bell, lindamente, nos sugere uma direção e conforto, que tem me ajudado muito no meu processo de (re)construção. Uma das formas de reparar essa lacuna emocional é com o amor interior. Se reconhecer como mulher negra é um ato de resistência. Acolher, aceitar, amar suas características é revolucionário.Esse processo é longo, doloroso, porém, potente e transformador.