20/01/2018
CIRURGIA ORAL MENOR ?
Há muito tempo tenho tentado acabar com essa denominação de CIRURGIA ORAL MENOR, e me pergunto quem deve ter sido o sujeito que começou isso tudo, o que será que ele pensou? Imagino que: se ele fosse um exímio cirurgião bucomaxilofacial, provavelmente deve ter pensado que como ele é capaz de realizar cirurgias a nível hospitalar de várias horas de duração, essas cirurgias intrabucais seriam coisa pequena, ou, quem sabe, poderia ser um dentista clínico que em um ataque de inferioridade, considerou que o que ele faz ambulatorialmente e sob anestesia local não é nada comparado às grandes cirurgias hospitalares. Mas, independente de quem começou ou de como iniciou tudo isso, a verdade é que as cirurgias bucais são tão ou até mesmo mais complexas do que muitas cirurgias a nível hospitalar e, não raramente, causam muito mais transtornos e problemas ao paciente. Claro que esses problemas, na maioria das vezes, têm um impacto menor, mas quem somos nós para julgar o que esses problemas podem causar na vida das pessoas envolvidas? Já vivenciei situações em que o sofrimento do paciente e também do dentista após uma cirurgia de remoção de um terceiro molar inferior foi muito maior do que de uma cirurgia de fratura de mandíbula; ora, a cirurgia de um siso normalmente é realizada sob anestesia local e isso exige uma expertise de quem faz e uma colaboração de quem é submetido muito grande, demandas que não existem quando o paciente está dormindo em uma mesa cirúrgica de um hospital onde o cirurgião possui todo o tempo do mundo e o paciente se encontra dormindo sob anestesia geral. Demore mais de uma hora para a remoção de um terceiro molar, e o emocional já tomará conta de tudo, e tudo se tornará mais difícil, é como se o óbvio desaparecesse de nossa vista, em outras palavras: é necessário muito treinamento para realizar bem uma cirurgia tão complexa como a remoção de um terceiro molar sob anestesia local. Como palavras têm poder, quem escuta que uma cirurgia de terceiro molar é coisa pequena, mesmo sem treinamento, vai achar que sabe fazer e a partir daí a tragédia estará agendada. Finalizo afirmando que: após vinte e cinco anos de ensino da cirurgia bucomaxilofacial, que denominação de cirurgia oral menor deve ser abolido do nosso vocabulário odontológico e sugiro substitui-lo por cirurgia bucal, pelo fato desse tipo de procedimento ser altamente complexo e variado exigindo um treinamento longo e muita prática clínica.