02/03/2025
TELEVISÃO: QUE BLOCO É ESSE?
Sem máscara, Dona Maria, mulher periférica, que há anos trabalha no carnaval da primeira capital do Brasil, tem identidade, cor e não é invisível. E apesar de ser um personagem fictício, aqui nessa estória, dona Maria seria tendência nos circuitos da vida?
A vendedora ambulante está presente no circuito carnavalesco duas semanas antes do início do carnaval, tentando garantir uma posição que julga excelente para conseguir vender a mercadoria que investiu para sua guia (através da sua força de trabalho?).
No intervalado dos blocos, na passagem dos trios, o vai-e-vem de milhares de pessoas, para dona Maria também há doses de alegrias. Assim como inúmeros desafios, como conseguir um espaço para repousar ou dormir, um local adequado para necessidades básicas, ainda tem as adversidades como as chuvas, a caixa de isopor quebrada durante uma confusão, etc.
Com "a cara" (leia cor e classe social) de dona Maria, existem milhares de pessoas que estão à margem do circuito, veja bem, escrevo à margem, mas não de fora. Assim como o filósofo Bauman apontou, considerando o lugar de limbo (e uma falsa insignificância) que nós escolhemos posicionar algumas pessoas, a gente pode falar, refletir e questionar o que seria da festa, da economia, sem essa maioria? Sem a exploração dessa mão-de-obra?
Na base dessa grande festa está o povo negro, sustentando o enriquecimento de uma minoria que goza, faz política (pão e circo), aqueles que se utilizam do discurso, para massificar e manter as disparidades.
No imaginário de muitos, essa grande festa se faz por si, as pessoas não trabalham (todo mundo está curtindo a festa). Nessa lógica, os ambulantes, os cordeiros, recicladores, agentes de limpeza, os motoristas, músicos, seguranças, policiais, etc. estão em qual condição? Nesse imaginário tem o registro de negros baianos que não trabalham, do negro que deve servir, que deve entreter; dos que vivem de festa, orgia, promiscuidade... O s**o sempre é uma questão?
Em contrapartida, talvez, seja interessante pensarmos quanto disso seria da ordem de uma projeção. Sobre quantos movimentos são necessários para posicionar o outro, como menos humano (demonizando sua cultura, celebrações, seu modo de vida)?
Os profissionais que operam nas grandes mídias são capazes de produzir imagens (reduzindo, ampliando, recortando), incutir viés, favorecendo na criação de um imaginário quanto a isso ou aquilo. Destaca-se o uso, na grande mídia, de uma forte tática psicológica (heurística de disponibilidade), recurso que consiste em apresentar, repetidamente, determinada informação ou desinformação, como reproduzir imagens (comportamentos e/ou falas) de uma pessoa ou de fração de pessoas, numa tentativa de influenciar pensamentos e comportamentos ou moldar opinião quanto a determinado sujeito, tema, grupo. A insistência na desqualificação de pessoas ou grupos, como alguns blocos e seu público, por exemplo, tem estrutura que garante a reprodução e manutenção dos efeitos nocivos do racismo, da intolerância religiosa, bem como promovem o uso da força ou violência, etc.
Outros movimentos que podemos observar na grande mídia, seria a tentativa de se aproximar do público realizando campanhas beneficentes (pra quem?); com falas agradáveis, utilizando uma linguagem popular; criando oposição, rivalidades ou criando pautas de viés emotivo, ainda que no formato de caricatura ou pura propaganda, enviesada pelos interesses do jornalismo de base sensacionalista, que tem um objetivo específico, vulgo: audiência.
É o mundo negro? Podemos mostrar pra vocês... 🫵🏽
Nós, profissionais da Psicologia e saúde mental, podemos apontar para possíveis impactos psicológicos, emocionais e/ou comportamentais, dessas abordagens e exposição.