07/11/2025
No dia 28 de outubro iniciamos nossa turma de Formação em Teoria e Técnica de Grupo Operativo.
Serão cento e quarenta e sete horas, distribuídas em doze meses de aprendizado, supervisão e sustentação grupal diante das adversidades que possam surgir nessa "viagem" rumo ao universo da coordenação de grupo operativo.
Deixamos aqui o poema ofertado ao grupo pelo integrante André Oliveira.
O azul que veste o corpo sagrado
(por André Augusto Araújo Oliveira)
O azul do céu da Bahia não é só cor —
é canto de Oxum se derramando sobre o corpo cansado do povo,
é véu que cobre a nudez das promessas não cumpridas,
é lágrima antiga, escorrendo do tempo dos avós.
O azul do mar é memória que não se cala.
Guarda nas conchas os nomes que o vento apagou,
guarda nas ondas as casas arrancadas do morro,
guarda no sal o gosto da resistência.
Há um corpo que caminha invisível pelas ruas de Salvador.
Nele cabem as ausências, os becos,
as mulheres que vendem cheiro e carregam o sol no ventre,
os homens que de sol a sol erguem a cidade nas costas e não são vistos.
Mas mesmo invisíveis, dançam.
Mesmo excluídos, reconstroem o mundo com as mãos abertas.
Na pele, o azul se mistura ao dendê.
E o suor vira mapa, rota, travessia.
O povo aprende a fazer do corpo um território,
e da dor, um tambor.
Quem disse que o invisível não brilha?
O azul, mesmo escondido, acende —
nas fitas do Bonfim, nas rendas de Mãe Menininha do Gantois,
nos olhos de quem reza e não se entrega.
Há insurgência em cada passo na Ladeira do Carmo,
em cada prece sussurrada ao mar,
em cada criança que corre de pés descalços e inventa futuro.
Porque o azul, na Bahia, não é silêncio —
é verbo.
É o corpo sagrado do povo dizendo ao mundo:
“Eu sou. E sou azul.”