23/01/2014
A importância do ômega-3 na formação do sistema nervoso central em bebês
Henry Okigami - farmacêutico bioquímico
O peso ao nascer e a idade gestacional no nascimento são considerados determinantes na morbidade e mortalidade infantis em países industrializados. Dados dos Estados Unidos mostram que partos prematuros resultam em baixo peso ao nascer, comprometendo de 6% a 10% dos nascimentos que chegam a aproximadamente 300 mil bebês por ano.
As conseqüências imediatas desta imaturidade ao nascer incluem patologias como síndrome respiratória, hemorragia intraventricular e enterocolite necrotizante. Além disso, dados a longo prazo mostram falhas na visão e audição, falha cognitiva e possível doença cardiovascular no adulto. Evidências atuais sugerem que ácidos graxos essenciais e seus metabólicos têm papel importante, modif**ando e prolongando a gestação em estudos animais e humanos.
Há evidências de estudos epidemiológicos em que o uso de ácidos graxos ômega-3, na dieta de grávidas, favorece o desenvolvimento do sistema nervoso central do bebê e prolonga o tempo de gestação, diminuindo o risco pós-nascimento. Segundo Allen e colaboradores, o nascimento prematuro é a causa mais comum de morbidade e mortalidade em recém-nascidos. Evidências de estudos humanos e animais indicam que a presença de ácidos graxos essenciais, das séries ômega-3 e 6, e seus metabólitos associados (denominados eicosanóides), têm papel importante e modificável na duração da gestação e parto.
Ingestão de ácidos graxos ômega-3 durante a gravidez pode ser inadequada na dieta atual. Prostaglandinas da série 2 estão envolvidas no parto e no remodelamento do tecido conjuntivo, associado à maturação cervical e ruptura das membranas. Na ausência de infecções, o parto prematuro é caracterizado por menor produção de prostaglandina no tecido reprodutivo e diminuição da expressão da ciclooxigenase indutível. Mulheres com parto prematuro têm quantidades aumentadas de ácidos graxos ômega-6 e diminuição de ácidos graxos ômega-3, a despeito da menor produção de prostaglandinas.
Vários trabalhos de suplementos em grávidas com ômega-3 têm mostrado uma redução signif**ativa na incidência de parto prematuro, aumento do peso ao nascer e aumento da duração da gestação. Segundo pesquisadores, suplemento com ácido graxo de cadeia longa, como o ácido docosahexaenóico, pode ser útil em prolongar a duração da gestação em gravidez de risco.
Evidências apresentadas na revisão dos autores são discutidas em termos do papel dos ácidos graxos ômega-3 e 6 na dieta de gestação e parto. Ainda segundo os autores, é forte a evidência da ligação entre ingestão de ácidos graxos ômega-3 e duração da gestação. O mecanismo para este efeito não é claro, porém pode envolver alterações mediadas por eicosanóides, como já citado.
Na revisão, os autores citam que estudo recente relatou que nascimentos prematuros (de 34 a 36 semanas de gestação) estão associados a um risco relativo maior de morte de recém-nascidos. A dieta típica ocidental é caracterizada por alta ingestão de ácidos graxos ômega-6 (o ácido linoléico fornece 7% da ingestão calórica nos EUA) e baixa em ácido graxo ômega-3. Em revisão de Olsen, o mesmo cita quatro estudos exibindo uma associação entre suplemento de óleo de peixe na gravidez e duração da gestação em vários centros. Os trabalhos não exibiram uma associação entre suplemento de óleo de peixe e aumento de gestação em estudos europeus, porém mostraram resultado em estudo americano. O autor sugere, então, que o estado em óleo de peixe seja fornecido pela dieta ou por suplemento.
No caso dos estudos europeus, pela dieta é importante no resultado final de duração da gestação, sendo que pacientes que consomem alta quantidade de peixe de origem marinha e regiões frias não têm impacto signif**ativo do suplemento de óleo de peixe na duração da gestação. O estudo nos Estados Unidos, realizado no Kansas, sugere que mulheres com baixa ingestão diária de doses pequenas de ácidos graxos ômega-3 (0,1g de ácido docosahexaenóico por dia), pode ter um impacto positivo nos resultados da gravidez.
Revisão de Jensen confirma a importância biológica dos ácidos graxos ômega-3 e seus benefícios na gravidez e no desenvolvimento da criança. Em sua revisão, o pesquisador cita que um grupo de especialistas recomendou a ingestão de 300mg/dia de ácido docosahexaenóico durante a gravidez e lactação, enquanto outros recomendaram de 200mg a 300mg por dia durante este período. Existem evidências que a quantidade de ácidos graxos ômega-3 na dieta ancestral era muito maior que na dieta ocidental moderna, o que leva a alguns a apoiar a visão que alguns pesquisadores recomendem ingestões maiores que as atualmente recomendadas.
O autor, a semelhança de outros, associa o benefício do uso de ácidos graxos ômega-3 ao metabolismo de eicosanóides, efeito nas propriedades da membrana e expressão de gene e, por este motivo, são nutrientes biologicamente importantes.
O ácido docoxahexanóico, importante componente das membranas da retina e neurônios, acumula rapidamente no cérebro e retina durante a parte final da gestação e vida pós-natal. É então, segundo o autor, razoável sugerir que a ingestão materna de ácidos graxos ômega-3 possa ter efeitos signif**ativos em vários resultados da gravidez, bem como subseqüente estado visual e neurodesenvolvimento.
Estudos observacionais e intervencionais têm sido relatados, acompanhando a influência de ácidos graxos ômega-3 durante a gravidez, no período inicial pós-parto, na duração da gestação e tamanho do bebê ao nascer, preeclampsia, depressão e função visual infantil, bem como neurodesenvolvimento. Dados disponíveis sugerem um efeito modesto destes ácidos graxos no aumento da duração da gestação e possível melhora no neurodesenvolvimento da criança.
Ainda segundo Ruxton e colaboradores, O DHA tem atividade no cérebro e isso tem sido demonstrado em experimentos animais. Os autores sugerem que a importância do ácido docosahexaenóico no desenvolvimento precoce do cérebro é uma observação lógica, uma vez que o baixo estado de ácidos graxos ômega-3 tem sido associado a efeitos adversos no bebê. Revisão de cinco trabalhos de distribuição aleatória concluiu que suplemento de ácido docosahexaenóico beneficia bebês prematuros nos primeiros três meses de vida.
Bibliografia
- Allen KGD, Harris MA. The Role of n-3 Fatty Acids in Gestation and Parturition[Exp Biol Med Vol. 226(6):498–506, 2001.
- Olsen SF. Is Supplementation With Marine Omega-3 Fatty Acids During Pregnancy a Useful Tool in the Prevention of Preterm Birth? CLINICAL OBSTETRICS AND GYNECOLOGY Volume 47, Number 4, 768–774.
- Jensen CL. Effects of n_3 fatty acids during pregnancy and lactation. Am J Clin Nutr 2006;83(suppl):1452S–7S.
- Ruxton CHS, Reed SC, Simpson MJA, Millington KJ. The Health Benefits of Omega-3 polyunsaturated fatty acids: a review of the evidence. J Hum Nutr Dietet 20:275-285.