21/09/2021
REFLEXÕES ACERCA DA MEDICAÇÃO EM PSIQUIATRIA
AVISO: este não é um artigo médico, muito menos científico. Foi escrito por gente leiga, então não espere respostas relativas a queixas comuns e muito menos às incomuns. Por essa razão, vamos deixar de lado os critérios diagnósticos, as terminologias as quais não entendemos bulhufas, os CIDs e tal...
Vamos falar da gente. A gente paciente, que aliás também pode ser “agente paciente”. A gente que não tem problema algum em ser chamado de “paciente renal”, “paciente ginecológico”, “paciente neurológico”... Mas, quando o bicho pega, como é difícil aceitar ser o “paciente psiquiátrico”! Ops! Fala baixo! Esconde o cartão e as receitinhas azuis! Soa quase como um estigma, mesmo que não compartilhe com ninguém. Na hora de marcar a consulta, o telefone não atende, não tem horário, questões de convênio... E não era nada disso, era a gente mesmo “conspirando contra”, pois, cá entre nós, eita momento complicado!
Aí a gente enche o peito de coragem ou vai mesmo sem coragem, arrastado por um familiar que quer que a gente fique bem ou simplesmente não aguenta mais conviver com a gente, digo, não aguenta conviver com a “situação” (pronto, dito assim não soa persecutório, né?). Na sala de espera, é irresistível avaliar um ou outro paciente, só tentando imaginar se a loucura dele é parecida com a minha.
“O que te trouxe aqui?”, deve ser uma pergunta meio clichê, mas não tem outra forma de tentar começar a entender um pouco o outro. Entre um silêncio e outro, surgem raiva, lágrimas, tristeza, risos e sentimentos que a gente nem sabe o nome. “A medicação vai tratar os sintomas, mas a psicoterapia é importante para descobrir a raiz do problema e assim poder trabalhar com ela”. Mais essa. Achei que era só tomar um comprimido e pronto. Tentar nomear as mazelas é tão “nível hard” quanto ter procurado o bendito psiquiatra.
O diagnóstico não define quem somos, mas como estamos no momento. Se a gente não tiver isso em mente, vai dar uma pirada geral. Recebe a receita e vê lá um antidepressivo, um estabilizador de humor ou um antipsicótico e pensa... Agora fodeu tudo de vez! Todo mundo sabia da loucura, menos eu. Melhor nem ler a bula. Vocês já leram bula de aspirina, de dipirona, dessas coisinhas que a gente toma todo dia? É um filme de terror. Vamos deixa-la para os médicos. No momento da consulta com o psiquiatra, já temos todas as instruções e cuidados, inclusive com alertas importantes do tipo “se você tomar essa parada toda de uma vez, você morre!” Não é pra assustar, é por cautela e para avaliar a necessidade de medicação assistida (ou seja, um familiar toma conta da sua medicação, caso passar bobagem pela sua cabeça) A regra é: se der qualquer bug no sistema, a gente avisa o provedor imediatamente.
A gente não sabe o que vai ser, como vai ser... Vão ser semanas, às vezes meses de ajustes até que a gente se sinta novamente conectado consigo mesmo. Já falei da montanha russa? Então, os altos e baixos fazem parte também. Trabalho muito árduo, mas vou pedir: Não se abandone. Melhor escrever em maiúsculas, para não esquecer: NÃO SE ABANDONE.
Os psiquiatras conhecem bem a relação que cada paciente faz com a medicação prescrita: uns se sentem empoderados em ter uma cartela, ou duas, ou mais, para quando precisar. Tem os que morrem de medo de ficar sem a receita. Tem os parças, que acham legal bradar aos quatro cantos que fazem uso dessa ou daquela medicação e, se precisar, até dividem com um colega mais chegado. Mas a grande maioria ainda prefere o silêncio.
Talvez a maioria se inclua nessa parcela silenciosa, não por vergonha, medo, muito menos receio do que pensarão a respeito. Acredito que é no silêncio que conseguimos ouvir com mais clareza os sentimentos, pensamentos e as reações do próprio organismo em relação a uma nova química que circula no corpo, ainda que de forma temporária.
O que quero dizer é: CONFIEM. Nenhum especialista que trabalhe com Amor (esse critério é essencial para quem trabalha com almas!) vai querer te ver dopado, inconsciente, impossibilitado de fazer as coisas que fazia antes. As conquistas de cada cliente são as conquistas do médico também. Os sucessos são comemorados e as falhas nunca devem ser vistas como fracassos, mas como possibilidades e tentativas de mudança.
Ser paciente é também ter paciência, inclusive consigo mesmo. Não dá pra esquecer quando se ouve no consultório, pela primeira vez: “deixa eu cuidar de você”. É permitir ser cuidado na condição de “paciente” e, aos poucos, tomar as rédeas da vida, de forma ativa e positiva. No entanto, só é possível tomar essas rédeas se, primeiramente, a gente se permitir ser cuidado e permitir entregar nossas dores ao outro.
Não tenham receio de usar medicação psiquiátrica, não se preocupem com nomes, dosagens, diagnósticos... Essas são atribuições do psiquiatra, afinal de contas eles também precisam de um norte.
Puxa... Já são quase 3 da manhã e às vezes não conseguimos dormir. Isso também faz parte, acontece vez ou outra. Talvez precisasse escrever e não há o que segure uma inspiração na madrugada. E está tudo bem. Hoje eu digo “confiem” e isso reverbera dentro de mim também, aquece-me a alma: sim, eu também confio!
Gratidão a todos os psiquiatras!