13/10/2025
Amadurecer é aprender a soltar o ressentimento.
O ressentimento é como uma corda invisível que nos prende à cena em que fomos feridos.
É a tentativa inconsciente de corrigir o passado, como se pudéssemos editar o tempo com a dor.
Mas o que o ressentido chama de “justiça” a psicanálise reconhece como resistência: é o eu que não consegue suportar o luto e transforma a perda em moral.
Freud nos lembra que o ressentimento nasce do narcisismo ferido: o sujeito não suporta o golpe da realidade, o limite da falta.
Ele prefere manter a ferida aberta, porque, enquanto dói, a ligação ainda existe.
E onde há ligação, o amor persiste, mesmo que de forma dolorosa.
É assim que a dor, paradoxalmente, se transforma em gozo: uma maneira de permanecer no que já se foi.
Lacan acrescenta: ressentir é, de certa forma, g***r da própria injustiça.
É manter viva a fantasia de que o Outro: aquele que nos feriu, ainda poderá pagar a dívida simbólica.
Mas a verdade é que não há dívida, há ausência.
E ausência não se paga, se atravessa.
Na clínica, o ressentimento se manifesta de formas sutis:
A pessoa que repete padrões, buscando reconhecimento onde foi ignorada.
O profissional que se esforça exaustivamente para provar competência ao chefe que nunca elogia.
O filho que tenta ser orgulho de pais que nunca souberam amar.
O amante que mantém viva a lembrança do abandono, de maneira velada.
Em todos esses casos, o traço comum é que o sujeito está colado ao Outro, e não a si mesmo.
A ferida virou laço, e o ressentimento é o nó que impede a liberdade.
Elaborar o ressentimento não significa perdoar o outro.
Significa perdoar a si mesmo por ter precisado tanto dele.
É aceitar que nem toda dor precisa de testemunha, e que o amor não precisa de razão para terminar.
Amadurecer é suportar o real da perda sem buscar vingança.
É abrir mão da fantasia de que o outro vai compreender algum dia.
É se libertar da necessidade de ser entendido, para enfim viver o que ainda não foi vivido.
E talvez a maior liberdade esteja aqui:
Você não precisa vencer a dor.
Basta parar de chamá-la de destino.