26/11/2025
A criança interior e o movimento interrompido: o chamado para a cura
Carl Gustav Jung dizia que “em todo adulto espreita uma criança — uma criança eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está completo, e que solicita atenção e educação incessantes.” Essa criança não é apenas uma memória da infância. Ela é uma presença viva, pulsante, que habita nosso mundo interno e influencia silenciosamente nossas escolhas, nossos vínculos e até nossos fracassos.
Essa criança interior é o nosso eu mais autêntico — aquele que existia antes das máscaras, antes das defesas, antes das feridas. Mas quando a infância foi marcada por dor, abandono, negligência ou violência emocional, essa criança se retrai. Ela aprende que o mundo não é seguro. Aprende que o amor pode falhar. E então, para sobreviver, ela se desconecta.
Na visão das Constelações Familiares, esse momento de desconexão é chamado de movimento interrompido. É quando a criança estende os braços para a mãe ou para o pai, e não é acolhida. A dor é tão intensa que ela decide internamente: “eu me retiro”. E esse gesto invisível se transforma numa postura de vida — uma recusa em confiar, em se entregar, em pertencer.
Essa criança ferida continua buscando, mesmo na vida adulta, alguém que a veja, que a ame, que a aprove. Mas nenhum parceiro, nenhum amigo, nenhum terapeuta pode preencher esse vazio. Porque o que ela busca não é algo externo — é o reencontro com a fonte.
Segundo Bert Hellinger, a cura começa onde tudo começou: com a mãe. Não com a mãe ideal, mas com a mãe real. A mãe possível. A mãe que, apesar de suas limitações, disse sim à nossa vida. Que nos deu o essencial: o corpo, o alimento, a educação. Quando conseguimos olhar para ela com humildade e aceitação, algo dentro de nós se reorganiza.
Mas há um passo além: como adultos, precisamos assumir a responsabilidade por essa criança que ainda vive em nós. Precisamos dar a ela um lugar no nosso coração. Nutri-la com amor, com presença, com escuta. Dizer a ela: “agora eu estou aqui. Eu cuido de você.”
Esse é o verdadeiro movimento para o mais. Não é esquecer o passado, mas integrá-lo. Não é negar a dor, mas transformá-la em força. É reconhecer que a criança interior não precisa mais esperar por alguém — porque o adulto que somos hoje pode finalmente acolhê-la.
Quantas vezes você buscou fora o amor que faltou dentro?
E se hoje você pudesse ser o colo que sua criança tanto esperou?