13/11/2025
Geralmente, o meu lugar é nessa poltrona.
É daqui que conheço o consultório, quase como quem reconhece a própria casa pelo cheiro.
Às vezes, com os pés no tapete que encontrei numa feira e escolhi com carinho.
Outras, com as pernas cruzadas na cadeira, buscando uma posição que sustente corpo e presença.
Sei exatamente para onde olhar quando preciso me ancorar: o arranjo da mesa, a escultura de palha que criei na parede, a luz que bate de um jeito familiar.
É confortável saber onde estou.
E de onde escuto.
E quais apoios encontro quando preciso de mim.
Mas, nesses dias, em que tantas histórias me atravessaram, fiquei pensando:
será que alcanço todas as nuances quando permaneço sempre no mesmo lugar?
Porque meu trabalho é acompanhar movimentos.
Sou testemunha ativa de reposicionamentos (pequenos e gigantes) na vida de quem senta comigo.
E, para acompanhar alguém que se move, eu também preciso me mover.
Hoje, me peguei observando o consultório de outro ponto.
Vi a luz entrar por outro ângulo.
Percebi apoios que eu nunca tinha visto.
Encontrei novas possibilidades de organização, de presença, de escuta.
E, enquanto me reposicionava, me veio a lembrança das conquistas que acompanhei essa semana: sonhos concretizados, compartilhados em fotos e em exposição do bem adquirido.
Foi ali que entendi, de novo:
a terapia é feita de encontros que mudam de lugar: dentro e fora da gente.
Ampliar o olhar é parte do cuidado.
E se deixar mover também.
Talvez seja isso que me emociona tanto:
ver, dia após dia, como a vida encontra frestas para se reorganizar e como acompanhar essas mudanças exige que eu também me transforme junto.