Allan de Aguiar - Consultório de Psicologia Clínica e Psicanálise

06/12/2025

O neurótico é um prisioneiro da linguagem, um produtor compulsivo de narrativas que, paradoxalmente, o impede de viver. Seu sofrimento não vem de uma falta propriamente, mas de uma saturação interpretativa que a psicanálise tenta descompletar.

O neurótico é alguém que está constantemente interpretando, ligando, atribuindo significados à sua experiência, aos seus sintomas, aos atos dos outros e ao mundo. Nada é deixado ao acaso; tudo deve significar algo. O sintoma neurótico (uma fobia, um ritual, uma ansiedade) não é um mero defeito, mas uma formação do inconsciente carregada de sentido.

Esse "excesso de sentido" é patológico porque satura o campo psíquico. É como se o neurótico ficasse preso em um labirinto de suas próprias interpretações, onde todas as saídas são cobertas por novas camadas de significado. Em vez de agir, ele rumina. Em vez de decidir, ele hesita, porque cada possibilidade abre um novo universo de consequências simbólicas.

O neurótico está fundamentalmente preocupado com a questão: "O que o Outro (os pais, a sociedade, a figura de autoridade) quer de mim?". Ele busca incessantemente o sentido de seu desejo no desejo do Outro, produzindo narrativas complexas sobre expectativas, dívidas, fracassos e reconhecimento. Esse é o "excesso de sentido" na relação.

O obsessivo cria rituais, pensamentos ou fórmulas mágicas para neutralizar pensamentos "proibidos". Um simples ato (tocar uma maçaneta) é sobrecarregado com sentidos de culpa, prevenção de catástrofes ou pactos inconscientes. A pergunta "E se...?" nunca cessa. A histérica questiona radicalmente seu lugar e valor através do sintoma. Uma dor física ou um estado emocional não é "apenas" isso; é uma pergunta dramatizada dirigida ao Outro ("O que eu sou para você?"). O sintoma fala, e fala muito, produzindo um romance intricado sobre sofrimento, desejo e identidade.

O analista não visa dar mais sentido ou uma interpretação final que "cure" o neurótico. Pelo contrário, a interpretação analítica muitas vezes visa cortar, pontuar, interromper esse fluxo excessivo de sentido.

Allan de Aguiar Almeida
Psicólogo Clínico e Psicanalista
CRP 05/32357 .psi

04/12/2025

11/11/2025

Na visão ferencziana a psicanálise não é um exercício intelectual de apenas decifrar sonhos e lapsos.

É um encontro humano profundo onde o adulto, portando sua criança ferida, busca, no reflexo empático do analista, a confirmação de que sua vida tem valor, que sua dor foi real e que, no fundo, vale a pena continuar existindo.

Ela não vê o paciente como um conjunto de sintomas a serem decifrados, mas como um ser humano em luta com a questão mais fundamental de todas: "Vale a pena eu ser quem eu sou?".

Allan de Aguiar Almeida
Psicólogo Clínico e Psicanalista
CRP 05/32357 .psi

05/11/2025

"As massas nunca conheceram a sede pela verdade. Elas exigem ilusões, a que não podem renunciar. Para elas, o irreal sempre predomina sobre o real; o inverídico as influencia quase tão fortemente quanto o verdadeiro. Elas têm a visível tendência de não fazer nenhuma distinção entre ambos”.

Sigmund Freud, em Psicologia das Massas e Análise do Eu

01/11/2025

“Silêncio é uma forma de dizer que certas coisas não valem o cansaço de nossa alma”.
INÊS SEIBERT

Allan de Aguiar Almeida
Psicólogo Clínico e Psicanalista
CRP 05/32357 .psi

31/10/2025

“A vida é feita de escolhas. E cada escolha, por mais insignificante que pareça, traz consigo consequências que não podemos prever. Ninguém pode evitar o impacto das suas decisões. Caminhamos por um terreno incerto, e a cada passo, moldamos o nosso destino, quer queiramos ou não. A única certeza é que o passado não pode ser desfeito, e o futuro é a soma de cada um desses passos”.
JOSÉ SARAMAGO, Ensaio Sobre a Cegueira

Allan de Aguiar Almeida
Psicólogo Clínico e Psicanalista
CRP 05/32357 .psi

29/10/2025

E não tem como fugir disso! O tempo ainda é nosso bem mais precioso e irreparável.

Allan de Aguiar Almeida
Psicólogo Clínico e Psicanalista
CRP 05/32357 .psi

28/10/2025

Nada em nossa experiência é verdadeiramente neutro ou descartável. Cada evento, desde os mais banais até os mais traumáticos, cada interação, cada emoção sentida, registra-se em nós. Essas marcas não são necessariamente lembranças conscientes, mas sim impressões que moldam quem somos. 

Não temos a capacidade de simplesmente "deletar" uma experiência dolorosa. Tentar reprimi-la, ignorá-la ou esquecê-la conscientemente tem consequências

O inconsciente é um organizador meticuloso. Ele armazena tudo: desejos, medos, traumas, impulsos, e até coisas que nossa consciência sequer registrou. Esses arquivos não ficam inertes; eles formam redes de associação, complexos e padrões que determinam nossos sonhos, nossos atos falhos, nossas fobias e nossas escolhas amorosas. 

Não podemos voltar no tempo e ser a pessoa que éramos antes de um evento acontecer. A marca está feita, o arquivo, registrado. Irreversibilidade e responsabilidade. 

Allan de Aguiar Almeida
Psicólogo Clínico e Psicanalista
CRP 05/32357 .psi

26/10/2025

A ideia conecta bem com o conceito de propósito: viver não apenas para si, mas para transformar o mundo ao seu redor com aquilo que se tem de mais autêntico.

Allan de Aguiar Almeida
Psicólogo Clínico e Psicanalista
CRP 05/32357 .psi

22/10/2025

Respostas podem ser estáticas, finitas e muitas vezes impostas por outros. Elas podem nos rotular. Perguntas são dinâmicas, infinitas e genuinamente nossas. Elas revelam nossa profundidade, nossa curiosidade e nossa coragem de não se contentar com a superfície.

Allan de Aguiar Almeida
Psicólogo Clínico e Psicanalista
CRP 05/32357 .psi

18/10/2025

É sobre criar as condições.

Allan de Aguiar Almeida
Psicólogo Clínico e Psicanalista
CRP 05/32357 .psi