02/09/2025
Com uma expressão serena e um olhar melancólico, alguém poderia tê-la cruzado na rua sem jamais imaginar que estava diante de uma das mentes científicas mais brilhantes do século XX. Seu nome era Cecilia Payne-Gaposchkin — a mulher que revelou a verdadeira composição do universo. Em 1925, por meio de sua tese de doutorado Stellar Atmospheres, ela fez uma descoberta revolucionária: o hidrogênio é o elemento mais abundante do cosmos, e as estrelas — incluindo o nosso Sol — são feitas principalmente desse gás. Ninguém antes dela havia chegado a essa compreensão. Seu trabalho seria mais tarde descrito como “a tese de doutorado mais brilhante já escrita em astronomia”.
E, ainda assim, sua descoberta foi ignorada. Nascida na Inglaterra em 1900, Cecilia cresceu em uma época em que a educação das meninas era considerada um desperdício de recursos — até mesmo sua própria mãe acreditava nisso. Mesmo assim, ela conseguiu uma bolsa para Cambridge, concluiu seus estudos e mudou-se para os Estados Unidos, onde se tornou a primeira pessoa a conquistar um PhD em astronomia pelo Radcliffe College. Mais tarde, quebrou mais barreiras ao se tornar a primeira mulher a ocupar uma cátedra plena em Harvard. Mas, apesar de suas imensas contribuições, seu nome raramente é mencionado ao lado de Newton ou Einstein. O fato fundamental que ela revelou — de que o universo é feito de hidrogênio — costuma ser atribuído à ciência em geral, e não à mulher que primeiro o provou.
A história de Cecilia Payne não é única. Rosalind Franklin, fundamental para a descoberta da estrutura do DNA, e Lise Meitner, peça-chave na compreensão da fissão nuclear, também tiveram suas contribuições ofuscadas por colegas homens. Esta é uma homenagem a todas elas — mulheres apagadas da história enquanto mudavam silenciosamente o mundo. Foi Cecilia Payne quem, diante do silêncio e do ceticismo, iluminou uma verdade cósmica: as estrelas são feitas de hidrogênio — e o universo, de mulheres como ela.