03/08/2023
✨🌳O desmatamento na Amazônia brasileira caiu pelo menos 60% em julho em comparação com o mesmo mês do ano passado, disse a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ao Guardian.
A boa notícia vem antes de uma cúpula regional que visa evitar que o maior bioma da América do Sul atinja um ponto de inflexão calamitoso.
O número exato, que se baseia no sistema de alerta por satélite Deter, será divulgado nos próximos dias, mas analistas independentes descreveram os dados preliminares como "incríveis" e disseram que a melhora em comparação com o mesmo mês do ano passado pode ser a melhor desde 2005.
O rápido progresso destaca a importância da mudança política. Há um ano, sob o então presidente de extrema direita, Jair Bolsonaro, a Amazônia passava por uma das piores temporadas de cortes e queimadas da história recente. Mas desde que um novo governo liderado por Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o poder, no início do ano, o governo penalizou grileiros, montou operações paramilitares para expulsar garimpeiros ilegais, demarcou mais terras indígenas e criou mais áreas de conservação.
Os resultados reforçarão Lula, Marina e outros anfitriões brasileiros de uma cúpula amazônica destinada a fortalecer a cooperação regional que ocorrerá em Belém nos dias 8 e 9 de agosto com a participação de oito nações da floresta tropical: Brasil, Colômbia, Bolívia, Peru, Equador, Venezuela, Guiana e Suriname.
Silva disse que a ameaça aguda da crise climática, que trouxe calor recorde para muitos países sul-americanos, significa que a cúpula tem que ser mais do que uma demonstração de unidade; precisava produzir resultados concretos e contínuos para garantir que a Amazônia não chegasse a um ponto em que começasse a secar e morrer, o que os cientistas alertaram que está se aproximando.
Ela propôs que cada país produza um plano de ação, que crie em conjunto um painel científico para mantê-los atualizados com os dados mais recentes e que compartilhem as melhores práticas para alcançar os três objetivos da cúpula: proteção da floresta e dos povos tradicionais, combater a desigualdade e fortalecer a democracia.
A chave para a melhoria no Brasil, que abriga 60% da Amazônia, segundo ela, foi uma forte meta. "O principal motivo é a decisão do Lula de almejar o desmatamento zero. Desde então, criamos novas unidades de conservação e territórios indígenas que produziram alguns resultados... Agora precisamos avançar em direção a um novo modelo de prosperidade que seja menos predatório, menos prejudicial para a população local e para a floresta."
Nos primeiros seis meses do ano, o desmatamento na Amazônia brasileira caiu 34%, em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo o sistema de alerta por satélite Deter.
Os números de julho, que é um mês mais revelador, pois costuma marcar o início da temporada de desembaraços, ainda estão sendo compilados, mas Silva disse que eles mostrariam uma melhora significativa de "pelo menos 60%" em relação ao mesmo período do ano passado.
Analistas independentes acreditam que isso pode chegar a 70%. "É incrível, totalmente louco", disse Tasso Azevedo, engenheiro florestal e fundador do grupo analítico MapBiomas. "Esta está a caminho de ser a queda mais acentuada desde 2005. Ainda estamos descobrindo por que isso está acontecendo tão rápido."
Ele acredita que a desaceleração se deve a uma combinação de fatores: a retomada dos embargos e outras atividades de proteção pelo governo, análises técnicas aprimoradas que revelam onde os problemas estão ocorrendo de forma mais rápida e detalhada, maior envolvimento dos bancos para negar crédito a proprietários de terras envolvidos na derrubada de árvores e também a cautela entre os agricultores gerada pelas novas leis da União Europeia sobre comércio livre de desmatamento. Pode não ser coincidência que o desmatamento não tenha caído de forma tão impressionante na savana do cerrado, que ainda não está coberta pelos controles da UE.
Silva alertou que um único mês com base em dados preliminares de satélite não representa uma tendência. Um quadro mais claro pode levar alguns anos porque a contagem anual do governo vai de agosto a julho, o que significa que o total deste ano incluirá os devastadores últimos cinco meses do governo Bolsonaro.
No entanto, ela viu sinais encorajadores em comparação com a última vez que foi ministra do Meio Ambiente, de 2003 a 2008. Naquela época, o ministério não havia sido atropelado como foi durante os anos e a Polícia Federal montou grandes operações de apoio, o que não aconteceu até agora neste ano, mas ainda levou dois anos para que as políticas começassem a mostrar resultados.
Neste ano, o ministério teve que se contentar com muito menos recursos e depender mais de embargos remotos de soja e gado com base em monitoramento por satélite. "Agora é diferente. O problema é mais grave e mais complexo, mas temos mais experiência e sabemos como fazê-lo", disse.
Silva espera que a melhoria possa ser um trampolim para um novo ciclo de prosperidade na Amazônia e além, baseado no uso sustentável de recursos, mercados abertos para produtos certificados, o desenvolvimento de uma e maior apoio financeiro de países ricos que se beneficiam do papel da floresta tropical como estabilizadora do clima e geradora de chuvas.
O investimento externo, o comércio e o apoio financeiro serão cruciais para mostrar que há uma alternativa viável às fazendas de gado e plantações de soja destrutivas. Devido ao seu sucesso no combate aos piores excessos de desmatamento da floresta, Silva tem sido duramente atacada pelos lobbies do e do petróleo no Brasil, e o Congresso corroeu o poder de seu ministério.
Ela enfrenta um desafio adicional do El Niño, que trouxe temperaturas horríveis de 38,9ºC para os Andes chilenos em pleno inverno, escassez desesperada de água para o Uruguai e recordes mensais de calor em várias partes do Brasil. Isso deve piorar os riscos de seca e incêndio na nos próximos meses, embora eles teriam sido piores se as políticas do presidente anterior tivessem sido continuadas. e Marina comprometeram seus futuros políticos com o desmatamento zero e pressionarão por reduções contínuas no período que antecede a conferência climática das Nações Unidas Cop30, que deve ser realizada na cidade amazônica de Belém em 2025.
Fonte. Jonathan Watts