17/11/2025
O homem e o medo de não ser suficiente
escrito por Ronaldo de Mattos - Psicanalista
Há um medo que mora
debaixo da pele masculina,
um medo que ele esconde atrás do riso fácil
e das palavras fortes:
o medo de não ser suficiente para ela.
O medo de não ser escolhido.
O medo de atravessar a vida
sem que um olhar o reconheça como destino.
Ele teme ser pouco,
teme ser falho,
teme ser revelado e, ainda assim,
não ser querido.
Treme ao imaginar
que ao abrir o peito
só encontre eco.
Há um menino dentro dele
que aprendeu cedo demais
que homem não chora
e que sentir é fraqueza.
Mas, quando a noite cai,
esse menino pergunta baixinho:
“Será que eu basto?”
E nenhum músculo responde.
Ele carrega fantasmas:
o ideal do pai,
o peso da sociedade,
a armadura que vestiu
para esconder a própria fragilidade.
Quer ser porto,
ser chão,
ser herói —
mas teme sempre ficar aquém.
Teme não ser necessário,
teme ser substituível,
teme ser apenas mais um corpo sem impacto na alma de ninguém.
A filosofia o atravessa como vento:
existir é risco,
amar é salto,
e ninguém é inteiro o bastante
para prometer eternidade ao outro.
Mas ele tenta,
porque o silêncio existencial o assusta.
E, entre ser o que é
e ser o que acha que deveria ser,
ele se perde no meio do caminho.
A teologia o chama pelo nome:
“Filho…”
Mas ele aprendeu a amar por desempenho,
a viver como quem precisa provar valor,
a merecer até o ar que respira.
Esquece que o sagrado
não exige que ele seja gigante,
exige apenas que seja verdadeiro.
Que a graça não se compra,
se recebe.
Então vem a poesia,
como quem segura o rosto dele entre as mãos:
Homem…
o medo que escondes é o que te humaniza.
Tu não nasceste para ser perfeito.
Nasceste para ser encontro.
O amor que é teu
não exige espetáculo.
Exige presença.
Exige coragem para ser visto
sem armaduras,
sem títulos,
sem prova de valor.
A poesia lhe diz:
Não temes não encontrar alguém.
Temes que ninguém te descubra inteiro.
Mas o amor verdadeiro vem sem ruído,
vem sem pressa,
vem como quem já sabe teu nome
antes que tu o pronuncies.
E, quando ele enfim descansar
de provar o que nunca precisou provar,
uma voz doce — quase divina —
lhe dirá:
“Você é suficiente.”