06/12/2025
Nós não emergimos no vácuo, nascemos em um campo de forças marcado por vínculos, ausências, condições sociais e dispositivos de cuidado (ou negligência) que inscrevem marcas duradouras na forma como pensamos, sentimos e nos relacionamos.
Do ponto de vista da psicologia do desenvolvimento e da teoria do apego, o cuidado precoce atua como matriz reguladora. Quando o ambiente oferece previsibilidade, responsividade e afeto, a criança internaliza padrões seguros de relação, aprende a modular emoções e desenvolve expectativas de confiabilidade no mundo. Em outras palavras, o cuidado se converte em organização psíquica.
Por outro lado, a falta de cuidado, entendida aqui não apenas como negligência física, mas também como falhas de responsividade emocional, ambientes caóticos ou vínculos inconsistentes produz o fenômeno inverso: padrões de insegurança, hipervigilância, dificuldades de autorregulação e uma narrativa interna marcada por incerteza e autoconceitos frágeis. A ausência se torna presença estrutural: “faltou alguém” passa a ser parte constitutiva do self.
Para Gestalt-terapia todo sujeito cria modos de ajustamento em resposta ao meio. Cuidado gera possibilidades de expansão; falta dele convoca estratégias de sobrevivência, muitas vezes rígidas, que continuam operando mesmo quando o contexto já mudou. Somos, assim, herdeiros criativos do ambiente que tivemos, às vezes brilhantes, às vezes exaustos.
Logo: Nossa história pessoal é, em parte, a história do cuidado recebido, negado ou improvisado.