26/11/2025
Quando eu era criança, não conseguia compreender como os adultos podiam se reunir para saborear uma bebida quente e amarga. No entanto, eu desejava fazer parte daquele grupo, então o mate que tomávamos era adoçado com tanto açúcar que mal conseguíamos perceber o amargor.
Agora, como adulta, o chimarrão se tornou parte essencial do meu dia a dia. Inclusive, durante meus atendimentos, a cuia está sempre à mão.
Sob a perspectiva psicanalítica, o chimarrão evoca temas como vínculo, compartilhamento e afeto. Sua interpretação pode ser ligada ao simbolismo da oralidade: o ato de beber (sorver pela bomba) remete à fase mais primitiva do desenvolvimento humano, a fase oral. Essa prática está associada aos primeiros prazeres, à relação com o seio materno, evocando sentimentos de cuidado, segurança e conforto.
Além disso, o chimarrão nos remete ao vínculo social. A roda de chimarrão é um espaço de intimidade e partilha.
Para mim, o mais importante é que o chimarrão surge como uma metáfora para a importância da escuta e do acolhimento na clínica. Assim como na roda de mate é a cuia que circula, na clínica é preciso criar um espaço também seguro e afetivo para que as questões do sujeito possam circular e ser elaboradas.
Quando seguro a cuia, é como se estivesse te convidando a puxar o banquinho e compartilhar mais sobre aquilo que te aflige. Assim como o sabor amargo que hoje aceito com tranquilidade podemos relacionar isso à aceitação da realidade, que nem sempre é doce, mas que pode ser encarada coletivamente na roda.
“Toda a dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história”🤍