12/10/2025
“Um Filho”, de Florian Zeller, é um filme profundamente sensível que nos convida a refletir sobre a complexidade da dor emocional na adolescência. Nicholas vive um sofrimento silencioso, muitas vezes invisível para aqueles ao seu redor, inclusive para seus próprios pais.
Zeller expõe, com delicadeza e crueza, a distância emocional que pode existir dentro de uma família, mesmo quando há amor. O adolescente em sofrimento muitas vezes não consegue traduzir em palavras o que sente, e o que emerge é um comportamento que confunde: isolamento, apatia, irritabilidade, mentiras, queda no rendimento escolar. Aos olhos dos adultos, pode parecer apenas “rebeldia” ou “falta de vontade”, mas, na verdade, é um pedido de ajuda silencioso.
A depressão, durante a adolescência, é um fenômeno particularmente doloroso porque ocorre em uma fase de profundas transformações cognitivas, hormonais, sociais e identitárias. O jovem busca compreender quem é e qual é o seu lugar no mundo, e qualquer sensação de fracasso, rejeição ou desamparo pode se tornar insuportável.
O filme evidencia também a culpa e a impotência dos pais diante do sofrimento do filho. O pai, envolto em sua própria narrativa de sucesso e recomeço, tenta resolver o problema de forma racional, acreditando que mudanças práticas como uma nova escola ou um ambiente mais estável bastariam para restaurar o equilíbrio do jovem. No entanto, “Um Filho” mostra que o cuidado emocional vai muito além da lógica e da boa intenção: exige escuta genuína, presença afetiva e, muitas vezes, ajuda profissional.
Ao final, a história nos confronta com a urgência de olhar para a dor mental com a mesma seriedade que olhamos para a dor física. A depressão não é apenas tristeza, é um colapso da esperança. E, na adolescência, quando o indivíduo ainda está aprendendo a lidar com suas emoções, a ausência de compreensão e suporte pode ser devastadora.
Assim, “Um Filho” nos ensina que o maior gesto de amor não é tentar consertar o outro, mas estar disposto a ouvi-lo sem julgamento, acolher sua vulnerabilidade e reconhecer que pedir ajuda é um ato de coragem, não de fraqueza.