11/06/2025
Amor , crise e o fim na véspera do Dia dos Namorados: uma perspectiva neuroemocional.A vivência de um término amoroso ou de uma crise relacional, especialmente em datas simbólicas como o Dia dos Namorados, pode desencadear respostas intensas no psiquismo. Sob o ponto de vista da neurociência e da psicologia afetiva, essa experiência não é apenas emocional ela é também neurobiológica e somática.1. O cérebro interpreta o término como ameaçaA rejeição ou a ruptura amorosa ativa estruturas cerebrais semelhantes às que respondem à dor física, como o córtex somatossensorial e a ínsula. Isso explica por que expressões como “dor no peito” ou “vazio no estômago” são mais que metáforas são sensações reais. O cérebro não distingue completamente entre dor física e dor afetiva.2. Sistema de recompensa em abstinênciaDurante o vínculo amoroso, há um aumento da dopamina (prazer e motivação), oxitocina (vínculo e apego) e serotonina (bem-estar e estabilidade emocional). Quando o laço se rompe: • O sistema de recompensa entra em “colapso” temporário. • Ocorre uma queda abrupta nesses neurotransmissores, resultando em sintomas comparáveis aos da abstinência de substâncias: fissura, compulsão por contato, ansiedade, insônia e desorganização emocional.3. Ativação da amígdala e resposta de ameaçaA amígdala cerebral, responsável pela vigilância emocional, se torna hiperativa. Isso favorece estados de: • Ansiedade de separação, • Medo de abandono, • Interpretações catastróficas sobre o futuro afetivo, • Sensação de fragilidade do self diante da perda.4. Datas simbólicas intensificam a ressonância emocionalEm períodos como o Dia dos Namorados, o ambiente reforça a memória do vínculo afetivo por meio de estímulos visuais, sociais e culturais (casais nas redes, músicas, presentes, campanhas publicitárias). O sistema límbico, responsável pelas emoções e memórias afetivas, é constantemente reativado o que pode: • Retraumatizar a pessoa em processo de luto, • Provocar recaídas emocionais, • Reforçar comparações sociais desvantajosas (“todo mundo tem alguém, menos eu”).5. Busca de sentido e armadilhas cognitivasO córtex pré-frontal, envolvido na construção de narrativas e busca de sentido, pode entrar em estado de hiperinterpretação: • Surgem ruminações (“onde eu errei?”, “por que não fui suficiente?”), • Pode haver idealização do passado, dificultando o desligamento emocional, • Há risco de desenvolvimento de crenças disfuncionais (“não sou amável”, “sempre serei deixado”).Recomendações clínicas para cuidado emocional: • Validação da dor como legítima e neurobiologicamente explicável. • Evitar exposição a gatilhos sociais intensos (redes, locais simbólicos), especialmente nos primeiros dias do luto. • Práticas de regulação emocional: respiração consciente, escrita terapêutica, arte, contato social seguro. • Movimento corporal e sono reparador: ajudam a reorganizar a produção de dopamina e serotonina. • Apoio psicoterapêutico ou escuta qualificada: favorece a elaboração simbólica do vínculo e a ressignificação do rompimento.Para reflexão clínica:“A dor do amor não é sinal de fraqueza, mas sim um reflexo da profundidade com que o ser humano é capaz de se vincular.”Em cada perda, o cérebro grita por conexão e a psique pede escuta, tempo e sentido.Eisenberger, N. I., Lieberman, M. D., & Williams, K. D. (2011). Does rejection hurt? An fMRI study of social exclusion. Science, 302(5643), 290-292.