07/05/2019
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Ah, o amor! (suspiros) Do encontro que temos com um outro que escolhemos como parceiro ou parceira só resta lidar com os incontáveis mal-entendidos, que é, como nos ensina a psicanálise e os poetas, estrutural. A língua que o outro fala parece, ou melhor, não é a mesma que a nossa.
Embora nossas escolhas, no que tange à esse terreno, ocorrem a partir de nosso próprio narcisimo - ou seja, ser amados como um dia o fomos ou como imaginamos que devemos ser amados -, há sempre algo que vai além dessa eixo imaginarizado e que nos diz que a banda toca outra música.
Se é assim, se não é possivel ter no outro um príncipe num cavalo branco ou uma bela sempre adormecida, como lidar com isso que insiste em marcar as relações e que impossibilita a harmonia perfeita entre dois que fariam um?
Bauman aponta que o amor se tornou líquido, efêmero. Bem, se fôr dessa forma, precisamos de algo então que lhe dê consistência, mas não ao ponto de congelá-lo. Talvez precisemos lidar com o fato de que em nossa época não são mais os bens (herdados ou ambicionados) que permitem dois se eternizarem em comunhão. Então, o que é? O que pode nos fazer desejar estar com um outro que não nos corresponde em sua integridade? O que fazer com esse desencontro permanente com aquele ou aquela que escolhemos algo de si partilhar?
Se a psicanálise aposta no amor como via de trans-formação, não é o mesmo que dizer que se aposta em qualquer amor. A psicanálise aposta num amor mais digno, como disse Lacan, num amor que faz laço e suporta a mais radical diferença do ser, além da própria imagem, que é própria de cada um. Esse é um dos desafios de nossa época: para além do amor cortês de séculos passados, um "match" pode, sim, permitir que algo dai se inscreva. É pura contingência.