26/08/2018
O prazer do medo
Vai uma dose de medo aí? Tem gente aceitando! Afinal de contas, um terrorzinho aqui outro ali não faz mal a ninguém. Pelo contrário. Dá o maior ba-rato. Seja assistindo a filmes de terror, andando em montanhas-russas, entran-do em corridas de carro ou praticando esportes radicais. O que não falta é gen-te correndo atrás do medo, para depois encontrar o prazer! Existe uma resposta fisiológica para isso, mas, além das explicações científ**as, um outro segredo rege os adeptos do terror: a satisfação em superar os limites. Mas será que es-se tipo de prazer é saudável? Será que vicia? E quando a brincadeira excede os limites, como fazer?
Nos parques de diversão, as maiores filas costumam ser a dos brinque-dos mais aterrorizantes. “Eu não gasto o meu tempo com roda-gigante ou com bate-bate. Prefiro repetir milhões de vezes a montanha-russa ou aqueles que simulam queda-livre”, diz a jornalista Camila Pereira. Dá muito medo! Mas é um medo seguro. Por isso que montanha-russa faz tanto sucesso: é uma oferta da sensação de medo com segurança total, pelo menos é o que ela acredita.
Se a questão é a segurança, não devia haver tanta repulsa aos filmes de terror. Todo mundo sabe que o Fred Kruger não vai pular do telão e se materia-lizar na sua frente, mas não tem jeito. É por isso que, quando se trata desse gênero, é oito ou oitenta: amam ou odeiam. Em pesquisas feitas com estudantes gaúchos, surgiram respostas assim: “A gente só se envolve quando o conteúdo do que se passa na tela é de arregalar os olhos”. Os filmes de terror nos transpor-tam para a tela, e vivemos o que está acontecendo. Com romances e comédias até nos emocionamos, claro, mas não f**amos tão ligados, excitados, conectados com o que rola nas cenas, e é isso que mais adoramos.
Afinal, por que o terror encanta tanto? De onde vem o prazer se, na verdade, o medo nos causa nervosismo, inquietação e mal-estar, e por que não xixi na calça, dor de barriga, vômitos? Por mais estranho que pareça, isso tem uma explicação. Quando o nosso cérebro reconhece uma situação de perigo, o sistema nervoso simpático é ativado e libera substâncias chamadas adrenérgi-cas, que preparam o nosso corpo para reagir. E por isso o coração bate mais forte, bombeando mais sangue, as pupilas dilatam, f**amos mais alerta e os va-sos se contraem, e isso gera uma sensação ruim, que é imprescindível para a so-brevivência, mas não dá prazer. É no final desse processo que o “barato” come-ça: Quando a sensação de tensão passa, substancias diferentes são liberadas, os opiodes, que trazem a sensação de bem-estar, relaxamento e calma.
O medo é uma forma do ser humano se proteger contra os perigos imi-nentes. Nós fomos moldados, através da seleção natural, a nos adaptar a uma situação de risco. Quem não tinha o estímulo para correr rápido quando se de-parava com um leão, por exemplo, morria, então ultrapassar os próprios limites, mais que uma vontade, é uma necessidade do ser humano. Apesar do medo fun-cionar como um sistema de segurança, o homem também sente a necessidade de ir além. É por isso que a humanidade está sempre se superando, fazendo inven-ções, criando tecnologia e assim por diante.
Para algumas pessoas não basta somente um esporte radical. Tem gente que pratica rapel, rafting, surf, bangee jump, escalada e mais a aventura que vier pela frente. É o caso da atleta e apresentadora de TV Dani Monteiro, que aliás, como se não bastasse, é tricampeã de windsurfe. Ela explica porque o pe-rigo a fascina. “A sensação de autoconfiança que a superação de limites te traz, acaba influenciando os outros âmbitos da sua vida. Você f**a mais segura para agir, seja qual for a situação”.
Você deve estar pensando: quem me dera ter essa coragem! Mas saiba que o melhor amigo da bravura é justamente o medo. “Todo dia passa pela minha cabeça que algo pode dar errado. Quem se sente o super-homem e elimina qual-quer chance de acidente acaba se dando mal. E aí aprende rápido a lição”, diz Dani.
Parece contraditório, mas praticantes de esportes radicais, aprendem a respeitar os seus limites. “Minhas aventuras me mostraram onde estão minhas limitações, tanto físicas quanto psicológicas. Eu não sabia que tinha medo de altura, por exemplo. Até que um dia subi numa ponte para saltar de bangee jump”, conta Dani. Se ela saltou? Sim. E não parou mais. Perigoso! Parece loucu-ra. No entanto, podemos afirmar que, se for pela própria vontade, o risco pode ser até mesmo saudável. Afinal, o ser humano vive em função do prazer de bus-car