08/12/2025
A pergunta inicial de um psicólogo, como “Como foi a sua semana?”, pode parecer uma simples formalidade ou uma tentativa de estabelecer um rapport amigável. Contudo, em um contexto orientado pela psicanálise, essa questão serve a um propósito muito mais específico e técnico. O objetivo principal dessa abertura é facilitar o início da associação livre, o método fundamental da técnica psicanalítica.
Ao fazer uma pergunta aberta e cotidiana, o psicólogo convida o paciente a começar a falar sobre qualquer coisa que lhe venha à mente, sem censura, lógica estrita ou preocupação com a relevância aparente. O dia a dia é um ponto de partida neutro e acessível. A psicanálise compreende que, mesmo em um relato aparentemente factual sobre o dia, o paciente inevitavelmente mobilizará afetos, memórias e representações inconscientes. O modo como a pessoa escolhe narrar o dia, os detalhes que enfatiza ou omite, as emoções que manifesta ao longo do relato, e até mesmo os lapsos de memória ou atos falhos que ocorrem nessa narrativa inicial, são preciosos indícios para o trabalho analítico.
Portanto, o “Como foi a sua semana?” é menos uma pergunta sobre a agenda do paciente e mais um convite silencioso para que o inconsciente comece a se manifestar por meio do discurso espontâneo e da livre divagação. O foco não está na resposta em si, mas na maneira como a resposta é construída, permitindo que a cadeia associativa se desenrole em direção aos temas centrais da experiência psíquica do analisando.