Psicanálise&Cultura

Psicanálise&Cultura Instituição psicanalítica fundada em 2004, comprometida com a transmissão da Psicanálise e a formação do psicanalista.

Constitui-se em um espaço para compartilhar e divulgar atividades e laços de trabalho, fundamentados no nó que torna Psicanálise e Cultura indissociáveis, articulando de forma moebiana as duas dimensões da Psicanálise - intensão e extensão - imprescindíveis à formação do psicanalista e à sua transmissão.

Educar é, à luz da psicanálise, um ato de intervenção no mal-estar da civilização. Teria, então, o professor a complexa ...
15/10/2025

Educar é, à luz da psicanálise, um ato de intervenção no mal-estar da civilização. Teria, então, o professor a complexa tarefa de mediar o desejo da sociedade (criar laços sobre a cultura e as normas) com os desejos e pulsões de cada estudante?

O educador, assim como o analista, lida com a resistência, justamente porque quem se coloca diante de um professor ou uma professora em um sala de aula não é uma tábula rasa, mas pessoas cheias de investimentos libidinais, fantasias e, por vezes, uma recusa ativa ao conhecimento que lhe é oferecido. Nesse sentido, talvez, seria interessante observar que, em muitos momentos em uma sala de aula, o que se faz na verdade é um convite à renúncia, ou seja, propõe-se que estudantes abram mão de seu narcisismo originário ("já sei tudo") para aceitar que há um saber que lhe falta. E que nunca será preenchido. Desse modo, ousamos comparar esta operação delicadíssima à que ocorre em uma análise.

Além disso, se a partir de Freud, podemos inferir que o professor ou a professora medeia desejos, para Lacan, ele ou ela se situa no lugar do Sujeito Suposto Saber, isto é, ocorre por parte de quem estuda uma projeção no outro (o/a docente, no caso) para a uma posição de mestria. Nessa suposição, a transferência se sustenta, e o/a professor/a, que, na prática, sabe que não sabe tudo, pode assumir a posição de que sabe para conduzir cada estudante a um encontro com um saber, que é sempre parcial e falível.

Quando um/a docente assume, sem suposições, esse posto de saber referencial completo e infalível, sua tarefa tende a ser fadada ao fracasso, porque quando um educador ou uma educadora, portanto, assume a posição de um mestre que deposita conhecimento em um aluno vazio (o "modelo bancário" criticado por Paulo Freire), ele perde a chance de se tornar o veículo que causa o desejo de saber.

Considerando o clichê de que o bom professor não é quem oferece respostas prontas, mas quem provoca perguntas, poderíamos reescrevê-lo afirmando que ele ou ela não preenche uma lacuna, mas a mantém aberta, mostrando que o saber é um território infinito a ser explorado. Sua missão é falhar produtivamente: ao se deparar com a impossibilidade de transmitir o saber por completo, ele abre espaços de oportunidade para que se faça o que se é possível fazer em termos de educação e ensino: produzir conhecimento em conjunto.

✍️ Texto de Roberto Perobelli

Amanhã (11), no Encontro entre Cartéis da Psicanálise&Cultura, um dos cartéis que tem se dedicado ao Seminário 9 (“A Ide...
10/10/2025

Amanhã (11), no Encontro entre Cartéis da Psicanálise&Cultura, um dos cartéis que tem se dedicado ao Seminário 9 (“A Identificação”), de Jacques Lacan, vai se debruçar sobre as aulas 9 (24 de janeiro de 1962) e 10 (21 de fevereiro de 1962).

Nessas aulas, o tema do objeto ‘a’ como causa do desejo aparece a partir da retomada do “Tema da escolha do cofrinho”, texto de Freud (1913). Com isso, o alerta sobre não se deixar enganar sobre o objeto dialoga com a noção de negação no centro da lógica do sujeito, pois é a negação que revela a verdade do desejo do neurótico.

O apagamento do traço na constituição do sujeito também é um tema que surge nessas duas aulas e permite, portanto, localizar a distinção entre o Um como unidade normativa e o Um como exceção singular (traço de pura diferença).

Ao destacar que o desejo se dirige ao que falta, Lacan diferencia amor, o qual trata de investimento narcísico, falando propriamente, em relação ao desejo, que trata da busca pela falta, importantes conceitos que precisam ser bem definidos na clínica, porque estão diretamente relacionados à transferência e à identificação.

A discussão que será realizada em torno desses temas será apreciada pelos participantes do Cartel Poubelle, que atualmente, na P&C, se ocupa de fazer a leitura do Seminário 18 (“De um discurso que não fosse semblante”), também de Lacan, e a discussão dará mais um passo em torno da discussão das identidades e identificações, tema ao redor do qual a instituição vem se dedicando.

Pedro Almodóvar, um dos cineastas mais icônicos da Espanha, tem uma obra profundamente atravessada por temas que dialoga...
02/10/2025

Pedro Almodóvar, um dos cineastas mais icônicos da Espanha, tem uma obra profundamente atravessada por temas que dialogam com a psicanálise.

O Quarto ao Lado foi escolhido por abordar temas cruciais para a psicanálise como: morte, luto, guerra, eutanásia… É o primeiro longa de Pedro Almodóvar, gravado totalmente em inglês, uma adaptação do livro O que você está enfrentando de Sigrid Nunez.

Com dois personagens centrais: Martha, uma correspondente de guerra, diagnosticada com câncer terminal, e Ingrid, uma antiga amiga, que é escritora.

Martha, ao decidir sobre seu processo de eutanásia, tem falas tão significativas como:
« Não queria fazer em nenhum lugar em que fui feliz. É um erro voltar a um lugar em que você foi realmente feliz, arruina as boas lembranças… »

A partir dessas questões, faremos uma discussão sobre esse filme de Almodóvar, no sábado (04/10), às 9 horas, na sede da Psicanálise e Cultura.
Coordenação Marcela Serrat Freire
Convidado: Diego Nunes
➡️Cineasta e artista visual com trabalhos e pesquisa focados em imagem (fotografia, vídeo e narrativas visuais). Graduado em cinema e audiovisual pela UFES, navega entre a fotografia, o cinema, a performance e a comunicação na ilha de Vitória. Dirigiu o documentário “Do dia em que mudamos a rota “ (2019) e hoje divide a direção com Fabrício Fernandez do “Filme Waldo” (2024). É também diretor de arte para audiovisual, produzindo a arte de diversos filmes e comerciais no Brasil, como “Dentro de Casa” (2015); “Era uma vez...Excitações” (2023) e “O Sumiço de Netuno” (em finalização).

A proposta para este sábado, dia 27, é retornar ao texto freudiano “O problema econômico do masoquismo”, de 1924, para a...
26/09/2025

A proposta para este sábado, dia 27, é retornar ao texto freudiano “O problema econômico do masoquismo”, de 1924, para apresentar o que Joyce ensina a Lacan e avançarmos nas considerações sobre a destituição do sujeito suposto ao saber em suas relações com a função da letra e da escrita a partir da clínica por RSI.

Este mês de setembro a Psicanálise&Cultura realizou mais uma edição do Conversas de Cartel.O Cartel Encore recebeu a psi...
22/09/2025

Este mês de setembro a Psicanálise&Cultura realizou mais uma edição do Conversas de Cartel.
O Cartel Encore recebeu a psicanalista Maria Luiza Zanotelli para uma manhã intensa de trabalho e interlocução em torno do Seminário 20 de Lacan.

Confira algumas fotos 📸

A coordenação de cartéis da Psicanálise&Cultura convida seus membros e participantes para mais-um Conversas de Cartel.No...
11/09/2025

A coordenação de cartéis da Psicanálise&Cultura convida seus membros e participantes para mais-um Conversas de Cartel.

No sábado, 13 de setembro, o Cartel Encore recebe a psicanalista Maria Luiza Zanotelli para uma manhã de trabalho e interlocução em torno do Seminário 20 de Lacan. É uma oportunidade de aprofundar questões e sustentar o laço de trabalho em cartel.

Será um encontro para compartilhar os pontos que mobilizam cada participante no trabalho com outros, atravessando temas como: Amor e S**o, Desejo e Gozo, Gozo Outro, Letra e alíngua, escrita e significante, lógica e nodulação, entre outros.

Falar de s**o sempre foi um tabu. Quando não praticado por um casal heterossexual,tutelado com a chancela do matrimônio,...
06/09/2025

Falar de s**o sempre foi um tabu. Quando não praticado por um casal heterossexual,
tutelado com a chancela do matrimônio, o s**o pode ser tratado como antinatural,
pe******do ou patológico.

A medicina, ao longo da história, muitas vezes associava
impulsos se***is desviantes (aqueles que se afastavam da função reprodutiva) a doenças psicológicas, prescrevendo tratamentos que incluíam contenção e punição.

Ao lado de Josef Breuer, Freud, ao trabalhar com as histéricas, encontrou a suspeita
da época de que os sintomas delas se ligavam a um desvio sexual feminino, atribuído ao útero (hystera). As soluções para isso variavam de compressas frias nas regiões íntimas a masturbação para alívio dos sintomas.

Reconhecia-se a energia sexual feminina como uma força capaz de causar doenças, exigindo contenção e realinhamento à sua função “natural” reprodutiva.

O pensamento freudiano inovou ao reconhecer que energias se***is podiam gerar
adoecimento. No entanto, os sintomas surgiam não pela sua mera existência, mas pela necessidade de extravasamento dessas forças libidinais, devido à repressão
sexual dos indivíduos. Freud percebeu, ao ouvir suas pacientes, que essa repressão
gerava patologias por não haver outra saída para as pulsões, além da reprodução.

Quando expressavam seus desejos íntimos, as mulheres liberavam a energia reprimida causadora de suas perturbações, aliviando seus sintomas.

É essencial falar sobre s**o e compreender seu sentido e destino. Precisamos repensar o quanto certos tabus podem estar incidindo sobre nossos corpos e o quanto podem ser prejudiciais para a pulsão de vida. Não é o s**o ou sua energia que adoecem, mas a dificuldade em lidar com essa demanda.

Aproveitemos essa sexta, dia do s**o, para pensar como estamos lidando com ele, e, quem sabe até, praticá-lo com toda a promessa de saúde que ele pode nos proporcionar.

✍️ texto de Gabriel Monteiro

**o **o

‘O amor nos tempos do cólera’, um título por si só enigmático, pois remete à epidemia de cólera que assolava a Colômbia ...
27/08/2025

‘O amor nos tempos do cólera’, um título por si só enigmático, pois remete à epidemia de cólera que assolava a Colômbia na época, e à cólera das guerras civis que aconteciam ao mesmo tempo por lá (alguma semelhança com o que vivenciamos no Brasil?).

Em meio a tudo isso, o amor de Fermina e Florentino. Um romance que se passa na virada do século XIX para o XX e que, longe de retratar o amor romântico, trata do amor frente a doença e a morte. Gabriel Garcia Márquez, também conhecido como Gabo, escreve esta obra após ser premiado com o Nobel de literatura em 1982, com ‘Cem anos de solidão’.

Considerado como o principal disseminador da literatura latino-americana no mundo, neste livro, baseado na história de seus pais e também na de seu país, ele rompe com o chamado realismo mágico, estilo até então característico do autor. Aborda sobre o amor na maturidade, e permite refletir sobre as possibilidades e impossibilidades do amor frente à barbárie.

Poderá o amor sobreviver? Que tal lermos juntos essa história?

Aconteceu, no dia 2 de agosto, na sede da Psicanálise&Cultura, uma conversa com a participação de Mauro Mendes Dias, sob...
19/08/2025

Aconteceu, no dia 2 de agosto, na sede da Psicanálise&Cultura, uma conversa com a participação de Mauro Mendes Dias, sobre os desafios que o compromisso com a formação do psicanalista e a transmissão da psicanálise nos colocam.

A quantas anda a Questão da Formação do Psicanalista hoje?

Essa foi a pergunta que norteou a fala de Mauro Mendes, em um encontro marcado pela seriedade e pelo compromisso com o tema.

A partir da sua experiência com o Instituto Vox, em São Paulo, Mauro esclareceu sobre a proposta do Instituto, o lugar da pesquisa no percurso de formação dos analistas e os modos de funcionamento que sustentam esse projeto singular, pautado no legado de Freud e Lacan.

O que ouvimos foi a apresentação de uma proposta comprometida com a ética, a pesquisa, a teoria psicanalítica e, sobretudo, com as pessoas.

Um momento de aprendizado, marcado pela generosidade com que Mauro transmitiu sua experiência, demonstrando que a formação do analista ainda é uma questão viva, em constante elaboração.

Um modo distinto de sustentar a formação, sem fórmulas prontas, mas com desejo e seriedade.

Jacques Lacan, em seu Ensino, deu à Topologia um lugar de destaque. A pergunta que se impõe, com base nesse fato é: será...
08/08/2025

Jacques Lacan, em seu Ensino, deu à Topologia um lugar de destaque. A pergunta que se impõe, com base nesse fato é: será que um analista, em sua prática clínica, pode dispensá-la?

Hoje (08), a Psicanálise&Cultura, como instituição apoiadora, participa do segundo encontro promovido este ano pelo Laboratório de Topologia, Política e Paranoia, coordenado por Eduardo de Carvalho Rocha, Luís Carlos Petry e Mauro Mendes Dias.
Por meio do dispositivo da apresentação de pacientes, nos reuniremos, numa discussão fundada na unicidade de um caso clínico, e considerando o contexto atual, para dele abordar alguns aspectos políticos, além do modo como hoje se apresenta a constante paranoica que habita cada sujeito.

Tratar-se-á de um encontro que pretende debater o modo de laço social e as demandas de gozo na atualidade, bem como o tema das identificações cujo cerne se centra na problemática do ódio às diferenças.

Amanhã (12), no espaço Conversas de Cartel, quem se apresenta é o cartel Poubelle. Esse cartel foi constituído com o obj...
11/07/2025

Amanhã (12), no espaço Conversas de Cartel, quem se apresenta é o cartel Poubelle.

Esse cartel foi constituído com o objetivo de fazer um percurso pelas referências que podem embasar o trabalho do lugar Publicação na Psicanálise & Cultura.

Contamos com a interlocução dos membros e participantes para acolhermos o que, até o momento, foi a produção deste cartel.

Lembramos ainda que, a função da publicação na formação do psicanalista é de fundamental importância, e que o cartel Poubelle, ao apresentar sua proposta à instituição, se propôs a questionar, o que, de fato, implica “publicar”?

Seria “dar a ler” o que se produz, ou, publicar, seria diferente de “produzir”?

Até lá!
Coordenação de Cartéis
Andrezza Fraga
Regina Arrivabene
Vanda Ferreira

Endereço

Avenida Champagnat, 501, Ed. Mariner Center, Sala 605
Vila Velha, ES
29101-390

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