09/03/2021
Repost Dra. Raquel Del Monde
No último texto da página, questionamos a exigência de renovação de laudos para crianças atípicas na volta às aulas, ainda em meio à pandemia Covid-19.
Separei alguns pontos levantados nos comentários para esclarecer algumas inquietações e dúvidas ainda bem comuns.
✅ A confusão entre laudos e relatórios de acompanhamento:
✏ O termo laudo refere-se a relatório médico no qual consta o CID - código da Classif**ação Estatística Internacional de Doenças, classif**ação da OMS adotada oficialmente no Brasil), documento com finalidade burocrática usado para assegurar o acesso do paciente a serviços de saúde e a outros direitos garantidos por lei. Os relatórios de acompanhamento podem ser elaborados por todos os profissionais que atendem o aluno, como psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta e descrevem aspectos das avaliações realizadas e observações importantes acerca das particularidades da criança e adolescente.
✅ Validade dos documentos:
✏ A declaração da existência de condições neurobiológicas (como o autismo, TDAH e transtornos de aprendizagem) tem validade indeterminada, já que estas permanecem ao longo da vida. Relatórios de acompanhamento refletem o momento da vida em que foram realizados e – como o próprio desenvolvimento humano – são dinâmicas, já que todas as crianças e adolescentes, atípicos ou não, adquirem continuamente novas habilidades e apresentam necessidades diferentes em cada estágio da sua vida.
✅ Há uma grande diferença entre intervenções terapêuticas e suportes pedagógicos:
✏ A troca de saberes entre as áreas da saúde e educação é muito enriquecedora para todos os envolvidos. Porém,, cada área tem competências e responsabilidades específ**as que precisam ser definidas de forma autônoma.
✅ Suportes pedagógicos não dependem do diagnóstico:
✏ Não existe “suporte de TDAH”, “suporte de autismo” etc. Mesmo porque, dentro de um mesmo diagnóstico, as particularidades de cada aluno variam muito, inclusive do mesmo aluno ao longo do tempo. Os suportes são estabelecidos para as dificuldades observadas (de comunicação, estilo cognitivo, nível atencional, características motoras e sensoriais) as quais podem ser compartilhadas por alunos com diversos diagnósticos. Vale lembrar que mesmo os alunos típicos são beneficiados.
✅O papel dos professores:
✏ Muitas vezes, quando falamos de forma crítica em relação ao sistema educacional, alguns entendem erroneamente como crítica aos professores. Ao nosso ver, professores são tão vítimas das falhas do sistema quanto os alunos. Somos totalmente solidários aos professores: desejamos melhores condições de trabalho, maior valorização, mais capacitação e mais apoio institucional.
✅Situação de pandemia:
✏ Não dá pra fingir normalidade nos dias atuais. Todos estão sobrecarregados, muitos nos imites das forças. Famílias e educadores precisam exercitar a compreensão mútua e unir esforços nessa fase. Vamos nos ater ao que é possível, aceitando que prejuízos são inevitáveis e que teremos algumas lacunas para sanar nos próximos anos.
✅Desigualdades no país:
✏ Fico desolada de ver como muitas pessoas ainda restringem suas opiniões puramente às suas vivências pessoais. Não temos apenas uma imensa heterogeneidade nos perfis dos alunos, mas também no acesso deles a serviços de saúde e recursos educacionais. A pandemia escancarou essa diferença. Muitas crianças e jovens neurodiversos no país não tem laudos, nem relatórios de equipes, não podem acompanhar aulas online, nem contam com ambientes familiares favoráveis. É dolorido ver alguém atacar a Nota Técnica 04/2014 do MEC, citada no último texto, que busca justamente proteger essas crianças.
👩🏫 Hoje vamos falar dos suportes possíveis. Na modalidade online, por motivos óbvios, não é possível instituir todos os suportes pedagógicos, como no modo presencial. Por outro lado, muitos alunos neurodiversos apresentam um melhor aproveitamento nessa modalidade, inclusive pela eliminação dos estímulos sensoriais e das demandas sociais da sala de aula.
♾ Vamos ressaltar acomodações e adaptações simples, que podem ser assimiladas nas aulas virtuais e que costumam ser de extrema ajuda para alunos neurodiversos.
💬 Comunicação: uso linguagem clara, direta e explícita. Valorizar dicção e linguagem gestual. Dar tempo suficiente para a compreensão dos alunos. Fracionar comandos complexos em passos menores. Sempre que possível, utilizar sinalização visual e concreta. Validar a intenção comunicativa do aluno, da forma que for mais funcional para ele.
💬 Ampliar acesso à informação por outras vias: oferecer material audiovisual e utilizar recursos para que o aluno “visualize” o conceito ou o procedimento em questão
💬 Manejo do ritmo: quando necessário, fracionar atividades, diferenciar o volume de trabalho, permitir tempo maior para a execução. A disponibilização das aulas gravadas é muito útil para aqueles que necessitam de intervalos mais frequentes ou de repetição de instruções.
💬 Quando necessário, reduzir a cópia escrita que não for essencial (eliminar exigência de cópias de enunciados, cabeçalhos, de matéria que estiver disponível em apostila ou de outro modo). Permitir uso de letra bastão e uso de materiais alternativos (gizão, adaptadores para lápis, tesouras adaptadas, pincéis grossos, banco de sílabas e banco de palavras).
💬 Flexibilização do modo de execução de atividades: Oferecer maneiras alternativas de executar exercícios e tarefas: permitir que circule ou sublinhe as respostas em cores correspondentes às questões, ao invés de escrevê-las por extenso; permitir que digite pesquisas e trabalhos (a demanda na digitação é muito menor que na escrita manual); utilizar questões de múltipla escolha. Priorizar entendimento e execução correta em relação a quantidade de exercícios e repetições.
💬 Utilizar situações do cotidiano e assuntos de interesse do aluno. Ilustrar com exemplos reais, próximo ao universo dos alunos.
💬 Sensoriais: permitir intervalos mais frequentes ou que desligue câmera e microfone em situações difíceis para o aluno.
💬 Adequar forma de apresentação, volume, nível de dificuldade e prazo de entrega das atividades quando necessário.