14/12/2022
"Não importam os pés. Os campeões caminham com o coração ♥."
Ninguém conhecia aquele etíope rsguio que corria descalço entre os 35 participantes da maratona dos Jogos de Roma. Duas horas e 15 minutos depois, ele seria saudado como novo Deus olímpico.
Dezessete países da África se tornaram independentes em 1960, mas nos Jogos de Roma os poucos atletas africanos negros eram vistos apenas com curiosidade.
Aos 28 anos, Abebe Bikila não tinha experiência internacional, mas seu corpo estava pronto pata corridas de longa distância. Costumava treinar na região da sua aldeia a 2.470 metros acima do nível do mar o que lhe dava resistência muscular e orgânica.
Alheios aos prognósticos que apontavam como favorito o soviético Sergei Popov, Bikila e seu técnico foram, de taxi, reconhecer o percurso. A 1.500 metros de chegada viram "A coluna se Axum", momento roubado da Etiópia pelas tropas italianas. Ficou estabelecido que a partir dali ele daria a arrancada para a vitória.
Assim foi feito. Descalço, imponente, Bikila se tornou o primeiro atleta africano negro a ganhar uma medalha de ouro olímpica. Porém, mesmo reverenciado em seu país, quase não pode competir nos Jogos de Tóquio.
Acusado de participar de um complô militar o herói nacional ficou preso por meses, além de sofrer uma operação de apendicite pouco antes da competição. Mas acabou competindo e, desta vez calçado, alcançou a velocidade recorde de 19,152 km/h e se tornou o único a vencer duas maratonas olímpicas.
Participou ainda da Olimpíada do México, mas sabia que não terminaria a prova devido a uma fissura na perna. Então, avisou o compatriota Mami Wolde para tomar a frente enquanto ele segurava os adversários. Bikila abandonou no quilômetro 17, mas permitiu que Wolde vencesse, conquistando o terceiro título consecutivo para a Etiópia.
Em março de 1969, o maior maratonista olímpico sofreu um acidente de automóvel e ficou paralítico. Com os poucos movimentos que lhe restaram, ainda tentou competir em arvo e flecha. Morreu em outubro de 1973, aos 41 anos.