12/11/2025
Muita gente associa o “não olhar nos olhos” à falta de interesse, timidez ou desconfiança. Mas, no caso do autismo, essa característica tem explicações que vão muito além do senso comum. Ela está relacionada a diferenças na forma como o cérebro processa estímulos.
Para muitas pessoas autistas, o contato visual pode gerar uma ativação exagerada da amígdala cerebral, uma região ligada ao medo, à vigilância e à resposta emocional. Isso significa que olhar para os olhos de alguém pode provocar desconforto físico, ansiedade ou até sensação de ameaça, mesmo que a pessoa saiba, racionalmente, que não há perigo. Não é uma escolha consciente de “evitar”, e sim uma reação automática do sistema nervoso diante de um estímulo percebido como intenso demais.
Além do componente emocional, há também um aspecto cognitivo envolvido. O rosto humano é uma fonte de informação extremamente rica: expressão facial, movimento dos lábios, direção do olhar, tom de voz, significado das palavras.
Para o cérebro autista, que tende a processar informações de forma mais sequencial do que simultânea, lidar com tudo isso ao mesmo tempo pode provocar sobrecarga. Quando a pessoa precisa compreender o que está sendo dito, por exemplo, ela naturalmente reduz os estímulos visuais para liberar recursos mentais e focar na linguagem. Ou seja, desviar o olhar também é uma estratégia de autorregulação cognitiva, uma forma eficiente de se concentrar na comunicação.
O problema é que as regras sociais interpretam o contato visual como sinônimo de sinceridade e atenção. Assim, um comportamento que tem uma função adaptativa para a pessoa autista acaba sendo lido de forma equivocada. Mas o que as pesquisas vêm mostrando é exatamente o contrário: no contexto do autismo, o desvio do olhar nem sempre indica desinteresse; ele reflete uma forma diferente de o cérebro organizar a atenção para conseguir estar presente na interação.
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