25/06/2020
Não é segredo que almejamos agradar ao próximo, e em uma primeira camada é isso o que Clancy faz ao escolher, na tela, um corpo para a próxima jornada. Existe em todos nós um de cativar e extrair do outro, o que ele tem a dizer, mas construir boas questões é desafiador. Afinal, para que um Guru se as perguntas feitas são mesquinhas?
Não é de hoje que a retórica esotérica gira em torno do enfadonho saber sobre o futuro, não importando se é a bruxaria, ou o pastor com língua dos anjos, ou o coach moderninho. Todos queremos ouvir que somos especiais e a reencarnação de Cleópatra. Saber quando encontraremos o par perfeito, se teremos saúde eterna, se os filhos serão ricos. Padecemos de uma ansiedade de futuro, como se saber, mudasse algo nas ações presentes. Negamos estar no presente em favor de fantasiarmos um futuro.
Midnight Gospel é especial nesse sentido, empacotado em corres gritantes e uma narrativa frenética, dissidente entre o visual e o oral, própria ao nosso modo louco de funcionamento, ela levanta uma temática mais intrigante no esoterismo. Sim, talvez você não tenha percebido, mas Midnight Golspel é sobre esoterismo e trata de mais do que mesquinharinha e te dizer que você será resgatado pelo Ashtar Sheran.
Escolher planeta, corpo e entrevistado é uma performance artística de Clancy, que precisa construir uma dignidade diante do possível Guru, seja quem for, presidente, prisioneiro, passarinho, não importam tanto as palavras, mas antes o processo de passagem em um encontro que transmite o indizível e assim, tornar-se outro.
E almejando compreender os segredos mais ocultos da vida, Clancy debruça-se sobre a morte, a ponto de entrevista-la pessoalmente, que não possuindo forma própria, o convida a imaginar como seria a morte a seus olhos.
Do , Clancy não deseja o futuro, mas a chave para suspender o véu de Maia. Combater as inferências que fazemos sobre os outros; não aceitar as verdades como óbvias; compreender que tudo morre, inclusive nós mesmos; sermos dignos da presença do outro, são essas as chaves do esoterismo. Todo o resto é vontade de negar a existência e malabarismo espiritual.